Tarifa para empadronados y/o residentes en periodo estival | |||||
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ALEX MIRA | ESP | INOVAÇÕES EM MEDICINA DENTÁRIA | |||
EGIJA ZAURA | NLD | INOVAÇÕES EM MEDICINA DENTÁRIA | |||
IAIN CHAPPLE | GBR | PERIODONTOLOGIA | |||
IRENA SAILER | CHE | PRÓTESE FIXA E BIOMATERIAIS | |||
ISTVAN URBAN | HUN | IMPLANTOLOGIA | |||
JEFFREY P. OKESON | USA | OCLUSÃO | |||
JORGE CASIÁN ADEM | MEX | ODONTOPEDIATRIA | |||
JOSÉ CARLOS IMPARATO | BRA | ODONTOPEDIATRIA | JOSÉ LOPÉZ LOPÉZ | ESP | MEDICINA DENTÁRIA PREVENTIVA | JOSÉ NELSON MUCHA | BRA | ORTODONTIA | JUSSARA BERNARDON | BRA | DENTISTERIA | MIGUEL ÁNGEL GONZÁLEZ MOLES | ESP | MEDICINA ORAL | RICARDO HENRIQUE ALVES DA SILVA | BRA | MEDICINA DENTÁRIA FORENSE | ROBERTO PRADO | BRA | CIRURGIA ORAL | SHANON PATEL | GBR | ENDODONTIA | VINCENT FEHMER | CHE | PRÓTESE FIXA E BIOMATERIAIS | www.omd.pt/congresso/2022/ |
A Ordem dos Médicos Dentistas retomou este ano a antiga prática, há muito perdida e esquecida, de integrar os novos colegas na profissão mediante a afirmação de um compromisso de honra. Fizemo-lo, cumprindo o nosso programa de ação, por considerarmos ser necessário e urgente reaproximar a medicina dentária da sua essência médica, reforçando-a e assumindo a ética e a deontologia profissionais como princípios basilares do exercício da nossa profissão e da sua regulação. Moveu-nos, de igual modo, a ideia segundo a qual a palavra dada possui ainda um valor inestimável, constituindo-se como elemento fundamental das relações sociais e, por maioria de razão, das relações que estabelecemos seja entre os nossos pares, ou com aqueles que nos procuram para que deles cuidemos.
Palavra dada, palavra honrada – com a publicação do estudo de apuramento de custos em medicina dentária, realizado pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve e que permite uma reflexão importante, que deverá ser feita individualmente para a garantia da qualidade na prestação destes cuidados e na defesa da saúde pública e do doente. Não contem comigo para ofuscar ou encafuar uma realidade dura, que muitos jovens colegas enfrentam ao iniciar a nossa profissão.
Palavra dada, palavra honrada – com o lançamento do projeto “Comer Bem, Sorrir Melhor”, destinado à região do centro do país, Viseu Dão e Lafões numa intervenção comunitária e que ambiciona estimular a literacia em saúde, associando a saúde oral e nutricional, num projeto pioneiro em Portugal entre duas Ordens profissionais.
Palavra dada, palavra honrada – pela publicação do Manual de Boas práticas de Publicidade em Saúde para Médicos Dentistas. Edição original, apelativa e fácil de captar, num tema onde todos temos responsabilidades em melhorar e contribuir para uma medicina dentária mais digna e respeitada.
Palavra dada, palavra honrada -afirmava uma das regras implícitas do direito consuetudinário romano, a qual pode e deve constituir, ainda hoje, um princípio ético fundamental à avaliação que fazemos do caráter e da pulcritude dos seres humanos.
Ainda mais a propósito, o respeito pela palavra dada deve e pode ser um elemento crucial do exercício de altos cargos públicos. Não havendo outra forma de contratualização entre cidadãos e eleitos, o compromisso político constitui a pedra basilar da relação que se estabelece entre uns e outros, honrando e dignificando (ou não) as instituições e aqueles que transitoriamente as representam num estado democrático de direito.
Na sequência dos compromissos assumidos para a saúde oral no decurso da última campanha eleitoral, a OMD recentemente reuniu com a ministra da Saúde, Marta Temido, assinalando o início da nova legislatura. Deste encontrou resultou a reafirmação de um conjunto de princípios e linhas de orientação que o Governo se propõe aplicar, nomeadamente no que toca ao fortalecimento das políticas de saúde pública e dos cuidados de saúde primários, com ênfase na garantia e simplificação do acesso de todos os cidadãos a cuidados médicos dentários, conforme tem vido a ser reclamado pela OMD em nome da mais elementar justiça. Continuaremos a pugnar pela revisão do Programa Nacional de Saúde Oral, mais conhecido por cheque-dentista, assim como pela necessidade de aprofundar e desenvolver a cooperação entre os setores público e privado, condição sine qua non para que o acesso dos portugueses a uma saúde oral de qualidade passe a ser uma realidade de facto.
Registei com idêntico agrado, nesta reunião, o compromisso assumido pela nova secretária de Estado da Saúde, Maria de Fátima Fonseca, no sentido de clarificar o estatuto profissional dos médicos dentistas integrados no Sistema Nacional de Saúde e de reconhecer a importância das condições de trabalho dos profissionais de saúde e dos médicos dentistas.
São boas intenções; mais do que isso, devem ser entendidas como compromissos de honra e, como tal, devem ser enaltecidas e registadas para memória futura.
Logo veremos se ganham raiz e frutificam.
POSITIVO:
A OMD acolheu no Porto, em maio, a Assembleia-Geral do Council of European Dentists, na mesma semana em que a estratégia de saúde oral foi aprovada na 75º Assembleia Geral da OMS. Mais do que um momento de afirmação dos médicos dentistas portugueses no panorama internacional, o encontro constituiu uma oportunidade de reflexão em torno dos principais problemas e ensejos que os médicos dentistas enfrentam hoje, no país e na Europa, a nível global.
NEGATIVO:
Após dois anos de pandemia, Portugal lidera o top europeu e está nos primeiros do ranking mundial com a situação epidemiológica de maior número de casos, o que demonstra que há falhas de orientação e comunicação que deveriam ser assumidas.
VAI ACONTECERSessões esclarecimento
VAI ACONTECERPost-it verde
ORDEM
Estudo sobre o custo de tratamentos em medicina dentária
É uma ferramenta de gestão que pode ser utilizada por quem tem de gerir uma clínica de medicina dentáriaLer mais
ORDEMEstudo aos Jovens Médicos Dentistas
ORDEMTiago Borges do Nascimento, presidente do Conselho dos Jovens Médicos Dentistas
A medicina dentária é uma profissão marcada pelo subemprego e precariedade nos primeiros anos de exercício
ROMD – Quais são as principais conclusões do Estudo aos Jovens Médicos Dentistas?
TBN – O estudo mostra que, apesar da suposta alta taxa de empregabilidade muitas vezes referida por algumas escolas médico-dentárias, a medicina dentária é uma profissão marcada pelo subemprego e precariedade nos primeiros anos de exercício profissional. Muitos colegas demoram poucos meses a conseguir emprego mas, quando o conseguem, é sob condições pouco dignas a nível de condições de trabalho e remuneratórias. Muitos jovens médicos dentistas começam a receber 200 ou 300 euros em situações que, por vezes, se prolongam no tempo.
ROMD – É, portanto, uma realidade que se prolonga por muito tempo…
TBN - Esta realidade continua preocupante para os colegas com mais tempo de atividade profissional e terá tendência a piorar. Mesmo após 10 anos de carreira, com uma carteira de pacientes mais fidelizada, quase 80% dos médicos dentistas ganham menos de 1.500 euros a 11 meses, sem direito a subsídio de férias, de natal ou de alimentação, e com mais dificuldade em obter baixa em caso de problema de saúde. A acrescentar a isto, a alta exigência técnica e a evolução da profissão obrigam a altos investimentos em formação contínua, até para que os colegas se consigam destacar num mercado altamente competitivo e oferecer o melhor aos seus doentes. Um curso de 2-3 dias tem o custo de um salário mensal inteiro. A realidade nacional contrasta com a realidade no estrangeiro, pelo que justifica um fenómeno crescente de "brain drain" a ocorrer na área da medicina dentária.
ROMD – O que pode ser feito para inverter este cenário?
TBN - Este mesmo estudo também demonstra algumas falhas que ocorrem na formação pré-graduada, que devem merecer a maior das atenções por parte da academia.
Podemos afirmar que a grande causa comum a todos estes problemas é a falta de planeamento de recursos humanos na medicina dentária, que levou a um excedente de médicos dentistas em Portugal a exercer num mercado altamente desregulado, deturpando os valores deontológicos do exercício profissional e a qualidade do ensino. Um problema que terá sempre impacto na qualidade de prestação do serviço de saúde oral à população.
ORDEMBoas Práticas de Publicidade em Saúde
ENTREVISTA
Ihsane Ben Yahya
Presidente da Federação Dentária Internacional
Quero reforçar a importância da literacia em saúde oral, especialmente para as gerações mais jovensLer mais
DEONTOLÓGICOArtigo de Opinião
Luís Filipe Correia
Presidente do Conselho Deontológico e de Disciplina
Conselho Deontológico e de Disciplina da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) tem como uma das principais competências estatutárias, o exercício da ação disciplinar relativamente aos médicos dentistas.
Esta ação disciplinar decorre quando estamos perante uma violação das normas deontológicas da medicina dentária por parte dos médicos dentistas e tem por principal objetivo garantir aos doentes, à comunidade em geral e aos membros da OMD, no âmbito da reserva legal de atividade, o cumprimento integral deste guia de conduta, reconhecido como essencial para o exercício exemplar da profissão e para a prestação de cuidados de saúde de qualidade na área da medicina dentária.
Mas, para além da ação disciplinar, é preciso recordar que o CDD tem outras competências, que devem ser aqui realçadas, como analisar e julgar recursos nos termos do Estatuto da OMD, elaborar pareceres em matéria ética-deontológica, elaborar normas, deliberações, resoluções e recomendações de natureza ética ou deontológica, elaborar propostas de Código Deontológico, interpretar as dúvidas suscitadas sobre a aplicação do Estatuto, proceder ao levantamento de sigilo profissional, e, por fim, mas talvez ainda mais importante, é o órgão de supervisão da OMD.
Apesar de ter esta lista de responsabilidades, o CDD tomou também como uma das suas principais missões dar apoio aos médicos dentistas, em matéria ética e deontológica, prestando informação e esclarecimentos à classe, nos termos permitidos.
Para este efeito, o CDD disponibilizou à classe, desde o ano de 2013, um e-mail próprio para contacto direto (cdd@omd.pt), criou um formulário específico de dúvidas na área reservada de membro da OMD, elaborou um conjunto de FAQ sobre dúvidas recorrentes em matéria deontológica e sempre demonstrou disponibilidade para ser contactado por telefone ou por e-mail, seja através do Departamento Jurídico, seja diretamente com o seu presidente ou com os seus membros.
Hoje em dia, com o objetivo de dar uma melhor resposta, a OMD reestruturou os departamentos internos e, para além do e-mail do CDD acima indicado, tem agora um e-mail central para onde podem ser enviadas as várias questões colocadas pelos médicos dentistas (geral@omd.pt), sendo depois internamente encaminhadas para o departamento que melhor pode responder à questão colocada.
O CDD também considerou que deveria realizar um maior esforço no sentido de fomentar a literacia ético-deontológica, ao mesmo tempo que esclarecia e respondia às dúvidas dos colegas. Desta forma, o CDD levou a cabo cerca de 20 sessões de esclarecimento sobre Ética e Deontologia em vários locais do país, de norte a sul, estendendo-se às ilhas, em horário pós-laboral e ao abrigo da formação contínua, durante o período 2013/2019.
Nestas sessões, os seus membros apresentaram vários casos reais de participações recebidas, debateram assuntos vários de real importância para a classe e esclareceram os colegas, desde o enquadramento deontológico desses casos à competência que lhe está reservada, ao desenrolar da ação disciplinar e à aplicação das penas disciplinares.
A par destas sessões, o presidente do CDD tem realizado todos os anos – e este ano não será exceção - sessões com os alunos finalistas de medicina dentária nas sete instituições de ensino superior de medicina dentária em Portugal, tentando prepará-los e ajudá-los a responder a potenciais situações de conflito que venham a surgir durante a atividade profissional.
Devo também recordar que na área de deontologia da página eletrónica da OMD (https://www.omd.pt/deontologia/) está agregada muita informação sobre matéria deontológica, sendo o seu conteúdo periodicamente atualizado e para o qual incentivo a sua consulta regular a todos os médicos dentistas.
Regressando às sessões, pensamos nós que estes tipos de ações de proximidade com os colegas têm tido resultados muito interessantes e importantes. Estes contactos diretos e sem filtros resultaram invariavelmente em conversas intensas e saudáveis, desde a abordagem de questões pessoais a situações decorrentes da profissão. Todos estes tipos de assuntos foram debatidos e discutidos e tiveram no CDD o eco e a ajuda no clarificar de dúvidas e no aconselhamento de quais as melhores atitudes a tomar, sempre com o objetivo final de evitar ou resolver conflitos, sejam estes com os doentes, sejam entre colegas.
Foi com muito agrado e com a sensação de dever cumprido que, após análise dos inquéritos realizados no final das várias sessões realizadas, verificámos os bons índices de satisfação com que os colegas nos brindaram.
Por sua vez, a proximidade aos médicos dentistas e à classe, associada ao conjunto de casos apresentados e de experiências vivenciadas pelos próprios membros do CDD, tornaram estas sessões extremamente relevantes e enriquecedoras para o próprio CDD.
Apesar dos índices encontrados neste modelo de sessões presenciais, o surgimento da pandemia levou o CDD a abandonar este tipo de ações e a enveredar por outros meios de informação, com um objetivo principal: alcançar ainda mais médicos dentistas. Assim surgiu a ideia de realizar uma série de vídeos - a publicar na página eletrónica, Facebook, Instagram e Youtube da OMD - de pouca duração, mas cheios de conteúdo ético e deontológico importante e que estão acessíveis em https://www.omd.pt/deontologia/videos/
Considerou-se que esta seria a forma mais certa, mais rápida e mais económica para atingir o maior número possível de colegas e, assim, disseminar a informação e o chamamento para as questões éticas, que os colegas, de uma forma geral, consideram de menor interesse.
Depois dos vídeos com os temas “OMD, CDD e suas competências”, “Ação Disciplinar” e “Direção Clínica”, é publicado agora o quarto vídeo com o tema “Direitos e Deveres dos Doentes”.
Para além da publicação destes primeiros vídeos, de uma primeira série de dez, que têm merecido, para já, uma boa aceitação e elogios por parte de vários setores da classe, passaremos também a publicar na revista da OMD casos reais anonimizados, que foram compilados ao longo dos anos e que serviram de exemplo nas apresentações das sessões presenciais anteriormente realizadas.
Com a mesma intenção, temos ainda as sessões organizadas pelo CDD no âmbito dos temas socioprofissionais nos congressos anuais da OMD, que contam sempre com a participação de profissionais e individualidades de outras áreas para além da medicina dentária na discussão de assuntos e problemáticas transversais às várias áreas da saúde.
Estamos certos que, com este tipo de informação e de chamamento para questões fundamentais e intrínsecas à prestação de cuidados de saúde, como é a medicina dentária, estamos a contribuir para uma melhor prestação de cuidados de saúde à nossa população, em que a ética, a ciência e a técnica desempenham, à sua medida, um papel fundamental para a credibilização de cada médico dentista e, por conseguinte, da classe como um todo. Nunca é demais sublinhar a importância do relacionamento médico dentista-doente e da necessidade de criar níveis de confiança tais, que levem a relações de fidelização duradoiras entre as partes, à prestação de serviços de qualidade e de proximidade e que inevitavelmente relativizam os conflitos e as desconfianças do doente.
NACIONALMarta Temido reconduzida NO CARGO
OS 13 MIL
Óscar Martins de Araújo
Médico dentista
GLOBAL
Marius Steigmann
Médico dentista
O vínculo entre o paciente e o médico dentista mudouLer mais
GLOBALOrganização Mundial da Saúde
A Organização Mundial da Saúde validou, no final de janeiro, a proposta estratégica para a saúde oral, a nível global, e recomendou que esta seja formalmente adotada na 75ª Assembleia-Geral.
O documento, que foi aprovado por unanimidade na reunião do Conselho Executivo, incorpora várias recomendações apresentadas pela Federação Dentária Internacional. Entre elas, a inclusão da saúde oral em vários pontos da sua agenda, nomeadamente na resposta da OMS a emergências de saúde, na sua declaração política e na nutrição materna e infantil.
Esta estratégia global foi debatida como uma parte da agenda de doenças não comunicáveis (DNC), que se quer mais ambiciosa e ampla. A declaração política da terceira reunião da Assembleia Geral sobre a prevenção e controlo de doenças não comunicáveis já inclui a resolução sobre saúde oral, bem como a atualização da sua definição.
Na 75ª Assembleia Mundial da OMS o esboço para implementação do futuro roteiro das DNC 2023-2030 para a sua prevenção e controlo (“Follow-up to the political declaration of the third high-level meeting of the General Assembly on the prevention and control of non-communicable disease”, no qual consta o item 14.1 (c ) “Global strategy on oral health”) será discutido e votado, bem como as recomendações preliminares para fortalecer e monitorizar a resposta à diabetes ao abrigo dos programas nacionais de DNC. Também o Anexo 8 sobre o projeto de plano de ação (2022-2030) para implementação da estratégia global de redução do consumo de álcool, enquanto prioridade de saúde pública, foi recomendado para adoção, assim como o Anexo 9 sobre as recomendações propostas para a prevenção e controlo da obesidade ao longo da vida.
Recorde-se que, no ano passado, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução histórica sobre a saúde oral. Nessa ocasião, a OMS foi desafiada a desenvolver, até 2022, uma estratégia global, bem como um plano de ação, que estabeleça metas para 2030.
GLOBALFederação Dentária Internacional
“Consensus Statement on Environmentally Sustainable Oral Healthcare” é o primeiro documento emitido pela Federação Dentária Internacional sobre o impacto dos cuidados de medicina dentária no meio ambiente.
Esta declaração tem como objetivo contribuir para a criação de uma economia circular no setor e incentivar os profissionais a comprometerem-se ativamente na adoção de práticas sustentáveis no seu dia-a-dia.
A presidente da FDI, Ihsane Ben Yahya, explica que “será uma surpresa para muitas pessoas saber que o setor da saúde é responsável por cerca de cinco por cento das emissões globais de gases com efeito de estufa, para as quais os cuidados de saúde oral são um contribuinte importante”. Até porque as doenças orais afetam cerca de metade da população mundial.
Portanto, para mitigar as alterações climáticas, a federação quer que profissionais e indústria médico-dentária tomem consciência de que a sua atividade contribui para a pegada carbónica, por exemplo, através da incineração de resíduos, da utilização de embalagens não recicláveis ou do uso de gases anestésicos, como é o caso do óxido nitroso.
A intenção passa por fazer chegar a mensagem a todos os que participam no processo de prestação de cuidados, promovendo a literacia em sustentabilidade e as pesquisas sobre o tema, de modo a alcançar resultados na diminuição do impacto ambiental e soluções amigas do ambiente.
A OMD tem vindo a dar particular atenção a este assunto. Os novos órgãos sociais assumiram no início do mandato, em meados de 2020, a sustentabilidade em medicina dentária como uma das metas a cumprir. A redução do consumo de papel é notória, não só em termos dos materiais de comunicação (como é o caso da Revista da OMD), mas também na aposta na formação contínua online e na realização de eventos mais sustentáveis. No ano passado, o Conselho Diretivo aprovou o Manual de Boas Práticas para Eventos Sustentáveis, que foi aplicado pela primeira vez no 30º Congresso da OMD.
A declaração da FDI resulta do trabalho de académicos especialistas na área, entidades legislativas e associações de medicina dentária. Está disponível para consulta em www.fdiworlddental.org/sustainability-consensus-statement.
ESTILO DE VIDA
Nuno Coelho
Maestro
A música foi feita para todas as pessoas, em todas a idades, culturas e geografiasLer mais
INFO
Artigos assinados e de opinião remetem para as posições dos respetivos autores, não refletindo, necessariamente, as posições oficiais e de consenso da OMD.
Anúncios a cursos não implicam direta ou indiretamente a acreditação científica do seu conteúdo pela Ordem dos Médicos Dentistas, a qual segue os trâmites dos termos regulamentares internos em vigor.
ACONTECEU · Conselho Diretivo
Bastonário esteve na Ilha Terceira para reunir com os associados da região
“As reuniões de proximidade são um apelo à união dos colegas pela OMD, por uma classe de médicos dentistas mais fortalecida e unida”. Com este propósito, o bastonário da OMD e o Conselho Diretivo deslocaram-se aos Açores para conhecerem e conversarem com os membros que estão a exercer na região autónoma.
Miguel Pavão esteve na Terceira para um encontro com os associados, dando assim continuidade à política de proximidade entre a Ordem e a classe. O responsável visitou também a delegação da OMD nos Açores.
Já a reunião mensal do Conselho Diretivo realizou-se em S. Miguel, com o objetivo de abrir a sessão à participação dos médicos dentistas. No final dos trabalhos, a direção promoveu uma troca de ideias e esclareceu todas as questões colocadas pelos profissionais que estão espalhados pelas ilhas.
O bastonário salientou que estes momentos são “ideais para colocarmos todas as questões que nos preocupam, esclarecermos dúvidas, fazermos sugestões e, desta forma, envolvermo-nos num desígnio que se quer de todos”. Joana Morais Ribeiro, representante da RAA no CD, deixou a promessa de que “fica a vontade” de organizar estas sessões noutras ilhas “num futuro próximo”.
Durante este ano, o Conselho Diretivo vai deslocar as reuniões para outras zonas do país, com o intuito de levar a Ordem ao encontro dos associados.
Conselho Diretivo reuniu com associados em Ponta Delgada
ACONTECEU · Conselho Geral
O Relatório e Contas relativo à atividade da OMD durante o ano passado foi aprovado na primeira reunião ordinária de 2022 do Conselho Geral.
Após validação unânime por parte do Conselho Diretivo, o documento foi enviado para análise e discussão dos conselheiros que decidiram, por unanimidade, aprová-lo. O relatório seguiu entretanto para o Tribunal de Contas, Governo e Assembleia da República.
O Relatório e Contas 2021 pode ser consultado pelos associados em www.omd.pt/info/relatorio-contas/rec2021/ (área reservada para membros).
A 26 de março, o Conselho Geral elegeu também a sua Mesa para o corrente ano. Na reunião, os presentes reconduziram o presidente Fernando Guerra para um novo mandato, assim como Célia Carneiro, que se mantém na vice-presidência, e os secretários Gisela Melo de Sousa e António José de Sousa.
ACONTECEU · II Cimeira do ensino superior
Participaram na cimeira representantes da OMD das sete faculdades que lecionam o Mestrado Integrado em Medicina Dentária e da Associação Nacional de Estudantes de Medicina Dentária
Em fevereiro, realizou-se a II Cimeira do Ensino Superior: Desafios Estratégicos do Ensino da Medicina Dentária em Portugal. Esta reunião teve como objetivo dar continuidade ao diálogo estabelecido em setembro do ano passado sobre o presente e o futuro da formação dos médicos dentistas.
Os trabalhos iniciaram com a apresentação do estudo “Jovens e Empregabilidade na Medicina Dentária”, pelo Conselho dos Jovens Médicos Dentistas da OMD. Este inquérito visou os profissionais com menos de 35 anos e traça o cenário do mercado de trabalho. A reestruturação curricular do mestrado integrado foi outro dos pontos levados a debate.
As faculdades adiantaram que está a avançar a constituição do Conselho de Escolas de Medicina Dentária. A Ordem apresentou ainda os dados preliminares de um inquérito realizado à classe e uma “Proposta de Parâmetros de Qualidade: ensino pré-graduado da medicina dentária”, que será alvo de análise por parte das instituições de ensino superior. A intenção é desenvolver um documento dinâmico, que gere consensos em prol de uma formação cada vez mais convergente com as diretivas e o perfil do médico dentista europeu.
A reunião decorreu no âmbito do Fórum Ensino e Profissão Médico-Dentária e teve a participação da OMD, das sete faculdades que lecionam o Mestrado Integrado em Medicina Dentária e da Associação Nacional de Estudantes de Medicina Dentária. O próximo encontro está agendado para o final deste trimestre.
ACONTECEU · Fundação Bial
Miguel Pavão, bastonário da OMD, e Luís Portela, presidente da Fundação Bial, junto a um quadro da pintora Armanda Passos, oferecido à OMD pela Bial, em 2005
O presidente da Fundação Bial, Luís Portela, visitou a sede da Ordem dos Médicos Dentistas e reuniu com o bastonário. Durante a conversa foram abordados vários temas “relacionados com a saúde, a preponderância da medicina dentária e da profissão, a visão política do país na esfera nacional e internacional”, adiantou Miguel Pavão.
Luís Portela é uma figura indissociável da farmacêutica Bial e do empreendedorismo português, cuja obra e gestão singular são reconhecidas por várias gerações.
ACONTECEU · Visita institucional
(da esq. para a dir.) Teresa Alves Canadas, vice-presidente do Conselho Diretivo da OMD, Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e Miguel Pavão, bastonário da OMD
O papel da medicina dentária em áreas como a saúde, a ação social e a educação foram o ponto de partida para a reunião entre o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o bastonário da OMD, Miguel Pavão, e a vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem, Teresa Alves Canadas.
Nesta troca de cumprimentos institucional, que aconteceu em fevereiro, os responsáveis conversaram sobre possíveis formas de cooperação, a começar pelo 31º Congresso da OMD, em que o edil cedeu a abertura dos paços do concelho para o encontro anual da medicina dentária.
Este encontro permitiu ainda abordar a necessidade de promover o acesso da população aos cuidados de saúde oral e osº ganhos a médio e longo prazo deste investimento.
ACONTECEU · Reunião de ex-bastonários
(da esq. para a dir.) Manuel Fontes de Carvalho, ex-bastonário da OMD, Miguel Pavão, bastonário, e Gentil Martins, ex-bastonário da OM
Os ex-bastonários da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Médicos Dentistas, António Gentil Martins e Manuel Fontes de Carvalho, respetivamente, reuniram na delegação de Lisboa da OMD, para conversarem sobre os primeiros passos da medicina dentária no panorama médico português e o caminho feito até à atualidade. O encontro foi dinamizado pelo bastonário da OMD, Miguel Pavão, e insere-se no âmbito do projeto do Livro Branco da Medicina Dentária portuguesa.
Gentil Martins foi uma figura decisiva para o enquadramento profissional dos primeiros licenciados da Escola Superior de Medicina Dentária do Porto (ESMDP). Enquanto bastonário da Ordem dos Médicos, em 1980, reconheceu “aos licenciados pelas Escolas de Medicina Dentária do país a capacidade para o exercício da medicina dentária pelo que eles devem ser considerados, ao nível da mesma função que os médicos estomatologistas”.
O ex-bastonário da OM foi também um defensor da integração dos médicos dentistas no SNS, tendo em 1983 enviado uma carta ao ministro dos Assuntos Sociais, em que alertava para a necessidade de o Governo estruturar a carreira destes profissionais.
Aos 91 anos, o fundador do Serviço de Pediatria do IPO tem no seu currículo mais de dez mil cirurgias. Licenciou-se em medicina de cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lisboa, foi oncologista pediátrico e dividiu a carreira entre o Instituto Português de Oncologia, que foi fundado pelo seu avô materno, e o Hospital D. Estefânia. António Gentil Martins especializou-se em cirurgia plástica e cirurgia pediátrica e foi pioneiro no desenvolvimento de várias técnicas cirúrgicas, tendo feito história ao separar pela primeira vez, em Portugal, duas gémeas siamesas, em 1978.
ACONTECEU · Assembleia-Geral do CED
A Assembleia-Geral de 2022 do Conselho Europeu de Médicos Dentistas realizou-se em Portugal, entre 19 e 20 de maio. A organização esteve a cargo da OMD e a reunião teve lugar na Alfândega do Porto.
Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente do CED, Freddie Sloth-Lisbjerg, que assumiu funções em novembro passado, para o mandato 2021-2024.
Na reunião estiveram presentes 110 delegados de 29 países.
O bastonário da OMD, Miguel Pavão, revelou a intenção de definir nesta reunião “os novos compromissos para a saúde oral no pós-pandemia, tendo em conta as consequências económico-sociais que a guerra na Ucrânia está a provocar. Apesar de haver realidades muito diferentes no espaço europeu, há fatores comuns a todos os países. Mesmo nos países da Escandinávia ou no Reino Unido, em que o acesso a consultas de medicina dentária é mais transversal a todas as camadas sociais, há margem para progresso”.
Por outro lado, lembrou que “Portugal é um dos países da União Europeia em que a população tem maiores carências nesta área. Apesar de todos os partidos políticos fazerem muitas promessas nas campanhas eleitorais para esta área, pouco concretizam quando chegam ao Governo. Queremos mudar este panorama e mostrar que sem saúde oral não há saúde em geral. E os mais afetados por esta lacuna são os mais pobres”.
O CED é uma associação europeia sem fins lucrativos que representa mais de 340.000 médicos dentistas na Europa, através das ordens e câmaras profissionais de 33 países europeus.
ACONTECEU · Especialidades
As provas de acesso às especialidades de odontopediatria, ortodontia e periodontologia realizaram-se nos dias 19, 20 e 21 de maio, no Porto.
No total, foram nove os médicos dentistas que se candidataram às diferentes especialidades. Recorde-se que o processo de admissão inicia-se no dia 1 de outubro de cada ano.
Os exames são públicos e , este ano, decorreram no Hotel HF Ipanema Porto. Para mais detalhes, consulte a página eletrónica da OMD, em https://www.omd.pt/2022/03/exames-especialidades-2022/
VAI ACONTECER · Sessões esclarecimento
Sessões de esclarecimento realizam-se nas sete instituições de ensino superior da medicina dentária
No mês de junho, a Ordem dos Médicos Dentistas inicia o périplo anual pelas instituições de ensino superior que lecionam o mestrado integrado de medicina dentária. O objetivo consiste em elucidar os alunos finalistas sobre a entrada na Ordem após a conclusão da formação académica.
Estes encontros serão promovidos pelo Conselho Diretivo (CD) da OMD e pelo Conselho Deontológico e de Disciplina (CDD), em momentos distintos.
Nestas sessões informativas, o CD vai dar a conhecer os requisitos necessários para a inscrição na Ordem, bem como os apoios disponibilizados aos novos membros, como é o caso da isenção de pagamento de quotas durante 12 meses após a conclusão do curso.
Em maio e junho, o CDD vai apresentar-se aos futuros médicos dentistas e abordar os temas relacionados com a ética e deontologia no exercício da profissão. As várias dimensões dos direitos e deveres dos médicos dentistas, os direitos e deveres dos doentes, as competências estatutárias e a regulamentação do CDD e da ação disciplinar são alguns dos assuntos na agenda destas sessões de esclarecimento.
DESTAQUE · Cerimónia do Compromisso de Honra
Emoção, reencontro, orgulho e realização. Este foi o espírito vivido pelos 57 médicos dentistas que participaram na primeira cerimónia do Compromisso de Honra.
Foi na icónica Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que se celebrou a entrada solene na profissão e que os novos membros da OMD prestaram o Juramento de Honra Acompanhados pela família e amigos, foi com o sentimento de dever cumprido que os associados formados em plena pandemia se comprometeram a honrar os princípios basilares da prática clínica. “Não é a profissão que dignifica o médico dentista, é o médico dentista que pode e deve dignificar a profissão”, lembrou o bastonário da OMD.
Num discurso focado na necessária reaproximação à ética, “a base essencial do exercício” da medicina dentária, Miguel Pavão não escondeu a realidade complexa que afeta a classe: o “brain drain”. “O país desperdiça um dos bens essenciais à sua prosperidade, a juventude e o talento”, lamentou.
Dirigindo-se àqueles que são a geração do futuro, o bastonário incentivou-os a zelarem pela qualidade e dignidade da profissão e a envolverem-se na dinâmica da OMD em prol do “acesso a uma saúde oral de qualidade”, sem desigualdades. “A Ordem tem-se batido pela adoção de uma verdadeira política nacional de saúde”, bem como pela “integração dos médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pela criação da respetiva carreira pública”.
Coimbra recebeu a primeira cerimónia do Compromisso de Honra
Evocar a medicina dentária
André Dias Pereira, vice-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e presidente da direção do Centro de Direito Biomédico, abriu a sessão com uma mensagem dirigida aos jovens médicos dentistas, alertando para cenários que possam conduzir a falhas deontológicas, éticas e de responsabilidade civil. Além de exemplos práticos, deu conselhos e salientou alguns riscos para os quais a classe deve estar atenta.
Fernando Guerra, presidente do Conselho Geral (CG) da OMD, exortou os novos colegas para que sejam “fiéis transmissores da honra, da honestidade, para que promovam o respeito pelos doentes e pelos colegas, para que respeitem as boas práticas do exercício da profissão”. O responsável não esqueceu o papel da classe durante a pandemia, lembrando que os médicos dentistas têm sido um exemplo, “contribuindo para o bem comum”.
Tiago do Nascimento Borges, presidente do Conselho dos Jovens Médicos Dentistas (CJMD), salientou a importância de “celebrar a valorização do médico dentista e do ato médico-dentário”. Recordou também os desafios que as novas gerações enfrentam, pelo que, por um lado, impõe-se “a discussão urgente do ensino”, por outro, “cabe-nos enquanto futuro da classe sabermos valorizar e dignificar a profissão”.
José Frias Bulhosa, vogal do Conselho Deontológico e de Disciplina (CDD), realçou que um dos grandes desafios que se colocam às profissões clínicas é “o total compromisso do médico dentista com o primado ético do humanismo”. Espera-se, por isso, a “assídua disponibilidade ao serviço da comunidade”, bem como a “interrupta procura pelos melhores cuidados para o seu doente e o respeito pelos seus doentes”.
Miguel Pavão, bastonário da OMD, acompanhado por André Dias Pereira, vice-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Fernando Guerra, presidente do CG, José Frias Bulhosa, vogal do CDD e Tiago do Nascimento Borges, presidente do CJMD da OMD
Juramento de Honra
O momento alto da cerimónia foi o Juramento de Honra, que representa, segundo Maria João Ponces, vogal do Conselho Diretivo (CD) da OMD, “um pacto com a verdade, o rigor, a autonomia, o sentido do dever e a ética profissional”. “É uma declaração de desejo de servir os doentes, respeitando a ciência e ponderando o seu poder através da prática do altruísmo, no respeito inalienável pela vida humana em todas as suas dimensões, não sendo compatível com radicalismos preconceituosos ou de reserva moral”, acrescentou.
Evento possibilitou o reencontro dos médicos dentistas formados na Região Centro
Visivelmente emocionados e de diploma na mão, os novos membros selaram este pacto, em uníssono, acompanhados pelo bastonário, por Maria João Ponces e pelo representante da Região Centro no CD da OMD, Salomão Rocha.
No final da cerimónia, o Presidente da República enviou uma mensagem de incentivo para a nova etapa que se inicia, a da “vida da prática, do terreno, da luta com a realidade”. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os presentes que esta profissão é uma “escolha de vocação, de compromisso social e comunitário”.
A sessão terminou com o concerto da banda “Messias and the Hot Tones”, que é liderada pelo médico dentista Fernando Messias.
Reveja os principais momentos em: https://www.youtube.com/watch?v=qPdsKx3tGgs
Messias and the Hot Tones
Miguel Pavão, bastonário, Salomão Rocha, representante da Região Centro no CD, e Maria João Ponces, vogal do CD, acompanharam o Juramento de Honra
Juramento de Honra foi o momento alto da cerimónia
Irina Dupret e Pedro Mortágua Velho, médicos dentistas
"É uma honra, após me ter dedicado a estudar uma arte tão bonita, poder finalmente celebrar esta ocasião tão importante da nossa vida e para um médico dentista. Estamos todos juntos, sem ser por videochamada, e estou muito satisfeito por isso."Pedro Mortágua Velho,
médico dentista
"Para mim é uma honra, porque podemos estar todos juntos, rever os professores e os colegas, e estar presencialmente, sem máscaras, é muito bom."Irina Dupret,
médica dentista
Compromisso de Honra do Porto
| 15 de maio
Compromisso de Honra de Lisboa
| 18 de junho
ORDEM · Dia Mundial da Saúde Oral
Projeto “Comer bem, sorrir melhor” foi apresentado no Dia Mundial da Saúde Oral
É urgente um programa anual de investimento em saúde oral para que todos os portugueses possam ter acesso aos cuidados médico-dentários. Este é, na voz do bastonário da OMD, o principal desafio que se coloca ao novo Governo, que tomou posse em março.
Na conferência “Definir uma nova agenda no pós-pandemia”, organizada pela OMD e transmitida em direto pelo Jornal de Notícias e Diário de Notícias, Miguel Pavão apresentou ainda duas ideias-chave: reformular o cheque-dentista e “aproveitar o Plano de Recuperação de Resiliência para fazer reformas nos cuidados de saúde primários, integrando os médicos dentistas e criando a carreira de medicina dentária no Serviço Nacional de Saúde”. Investir na “prevenção” e nas “reais necessidades das populações” é o caminho proposto.
Na sessão alusiva ao Dia Mundial da Saúde Oral (DMSO), que decorreu no Museu do Quartzo, em Viseu, o bastonário alegou que, embora sejam “inegáveis os avanços alcançados nos últimos anos em Portugal”, “ainda há muito por fazer para que as necessidades dos portugueses em matéria de saúde oral estejam integralmente garantidas”. Senão, vejam-se os últimos estudos da OMD, que mostram que 70% dos portugueses têm falta de dentes e que, em 2021, 41% não consultavam o médico dentista há mais de um ano.
Na ótica do bastonário, “a saúde oral está a ser permanentemente adiada” e é fundamental que o PRR não fique pela “esfera pública”, desde logo porque “98% dos cuidados de saúde oral dos portugueses são garantidos pelos médicos dentistas do privado”. Pelo que, estes “podem e devem continuar a responder àqueles que o SNS não alcança”.
Miguel Pavão apelou aos presentes para que o DMSO “seja o ponto de partida para uma nova fase na administração das políticas públicas da saúde em Portugal”.
Na abertura da conferência, o presidente da Câmara de Viseu e da Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, Fernando Ruas, destacou a importância de iniciativas como esta para combater as assimetrias no país, lembrando que é fundamental que exista financiamento público no interior, de forma a garantir uma maior qualidade de vida a todas as populações.
Ihsane Ben Yahya, presidente da FDI, Fernando Ruas, presidente da CIM Viseu Dão Lafões e Miguel Pavão, bastonário da OMD
Bem-estar e saúde oral
A presidente da Federação Dentária Internacional (FDI), Ihsane Ben Yahya, destacou a ligação entre uma boa saúde oral e a saúde em geral, já que problemas ‘na boca’ podem originar outras doenças, como diabetes. A responsável apelou ao “esforço consolidado de todos”, a nível intersetorial, e destacou o marco importante de integração da saúde geral na saúde oral, por parte da Organização Mundial da Saúde, assim como nas doenças não comunicáveis e no desafio da cobertura universal dos cuidados de saúde.
Salientou que é um fator-chave na qualidade de vida e bem-estar e que as doenças orais e as não comunicáveis têm os mesmos fatores de risco, em que a saúde oral é em si um fator de risco para outras patologias.
A diretora-geral da Saúde reforçou que a taxa de utilização dos cheques-dentista é de quase 72%, tendo admitindo alargar a sua utilização a outros grupos vulneráveis. Os “resultados positivos” não impedem que se faça “mais e melhor”. Por isso, Graça Freitas realçou que o objetivo passa por “alargar o cheque-dentista a outros grupos vulneráveis, avaliar o risco de cárie aos 4 e 7 anos” e fazer tudo para tornar possível a reabilitação oral, “nomeadamente a disponibilização de próteses dentárias”.
Pedro Araújo, jornalista, moderou o painel que contou com a participação de José Frias Bulhosa, representante da OMD (da esq. para a dir.) e, via zoom, Eurico Castro Alves, presidente da Convenção Nacional de Saúde, António Mano Azul, Chief Dental Officer, e Ana Nunes de Almeida, vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde
No encerramento do DMSO, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde relembrou a evolução dos programas públicos neste setor. “Mais de 5700 médicos dentistas e estomatologistas atenderam mais de 4,7 milhões de utentes, que realizaram 19,5 milhões de tratamentos”, constatou António Sales, frisando que “60% foram tratamentos preventivos, num investimento de 190 milhões de euros”. Já o programa Saúde Oral para Todos criou 137 gabinetes de medicina dentária em 48 ACES (num universo de 54), enquanto o PNPSO 2021-2025 alargou o cheque-dentista às crianças de 4 anos e dos 7-18 que frequentem qualquer escola. “Adotaremos este novo programa com ambição e com cooperação intersetorial”, concluiu.
(da esq. para a dir.) Pedro Araújo, moderador, Fátima Duarte, presidente da APHO, Miguel Arriaga, Chefe Divisão de Literacia, Saúde e Bem-Estar da DGS, Nélio Veiga, coordenador do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de Medicina Dentária da UCP, e Luís Filipe Amaro, representante da ON
Palavra-chave: investimento
Na mesa redonda “Saúde Oral e Saúde Geral: Uma prioridade para a legislatura 2022-2026?” foram abordados os desafios e estratégias que podem ser adotadas pelo novo governo.
Eurico Castro Alves, presidente da Convenção Nacional de Saúde, notou que o sistema de saúde português é um sistema de sucesso comparado com o resto do mundo, mas que tem tratado a “saúde oral como parceiro à parte”. “É uma componente de um todo que é a saúde dos portugueses e era com essa atitude que devíamos olhar para a saúde oral”, constatou. Eurico Castro Alves defendeu que é tempo de “começarmos a estudar formas de fazer jus ao princípio da complementaridade [entre público e privado] e de trazer para o setor da saúde a saúde oral”.
Ana Nunes de Almeida, vice-presidente do Conselho Nacional de Saúde, concordou que a saúde oral “nunca foi uma prioridade” e que deveria ser encarada como “parte integrante do sistema de saúde a que todos tenham acesso”. “O direito à saúde oral é um direito de todos os portugueses”, frisou.
José Frias Bulhosa, representante da OMD, admitiu que o cheque-dentista trouxe “inovação”, mas que “agora, passados 12 ou 13 anos, se calhar já estamos a precisar de reformular e de atualizar sob o risco de estarmos a fazer arqueologia nos programas de saúde pública oral”.
António Mano Azul, Chief Dental Officer, acrescentou que há crianças e adultos com “várias cáries para tratar e só têm dois cheques”, sugerindo a reintrodução no sistema dos vouchers não utilizados, que rondam os 30%.
A inclusão dos médicos dentistas no SNS foi outro dos temas debatidos, bem como o aumento de médicos dentistas formados nos últimos anos.
Literacia e promoção
Os benefícios da complementaridade entre alimentação saudável e saúde oral e a necessidade de investir mais na literacia foram o ponto de partida para um debate que juntou Direção-Geral da Saúde (DGS), médicos dentistas, nutricionistas e higienistas.
Miguel Arriaga, chefe Divisão de Literacia, Saúde e Bem-Estar da DGS, salientou que é importante focar o planeamento “numa só saúde e contar com contributos de todas as áreas”. Acrescentou ainda que, neste momento, importa tentar recuperar os indicadores de saúde e perceber “o que aconteceu à saúde dos portugueses durante a pandemia”.
Luís Filipe Amaro, representante da Ordem dos Nutricionistas (ON), explicou que a “nutrição e alimentação são basilares na nossa saúde” e falou um pouco dos desafios do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável, bem como “do processo de aquisição de hábitos saudáveis”.
Nélio Veiga, coordenador do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade Católica Portuguesa (UCP), defendeu a inclusão de profissionais noutros “focos estratégicos”. “Não só a colocação de médicos dentistas em centros de saúde e hospitais, mas definir estratégias onde realmente eles são precisos”, argumentou.
Também Fátima Duarte, presidente da Associação Portuguesa de Higienistas Orais (APHO), propôs a união de esforços entre equipas de saúde oral e nutricionistas. Referiu que “todos têm que concorrer para o mesmo fim”, que é “a otimização da saúde oral”. Por fim, alertou que “a cárie é muito elevada em Portugal” e que o trabalho dos “higienistas tem uma componente comunitária muito forte”.
“Comer bem, sorrir melhor” é o nome do programa que pretende reduzir o risco de cáries e equilibrar a alimentação diária das crianças que frequentam as escolas do 1.º ciclo, dos 14 concelhos da região Viseu Dão Lafões. Para isso, uma carrinha, transformada em consultório, vai percorrer todos os estabelecimentos de ensino, durante 15 meses.
A iniciativa foi apresentada no Dia Mundial da Saúde Oral e resulta da parceria entre a Comunidade Intermunicipal (CIM) de Viseu Dão Lafões e das ordens dos Médicos Dentistas e dos Nutricionistas.
Maria Llanes, representante da OMD, explica que está prevista a realização de 10.500 consultas dentárias e de nutrição e que o projeto – que é financiado pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, Portugal 2020 e pelo Fundo Social Europeu – vai abranger as crianças com idades entre os seis e os 10 anos. A equipa que vai percorrer as escolas fará uma avaliação antropométrica dos alunos e da sua saúde oral. Os médicos dentistas vão avaliar o risco de cáries e, se necessário, aplicar flúor e selantes. Os nutricionistas vão detetar o risco de obesidade e um animador vai organizar atividades lúdicas.
Bárbara Beleza, presidente da Mesa do Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas, refere ainda que as famílias vão receber recomendações para alterar hábitos alimentares. A meta consiste em promover uma alimentação saudável, pois quase um terço das crianças tem excesso de peso (13% das quais têm obesidade infantil).
Nuno Martinho, secretário executivo da CIM Viseu Dão Lafões, acrescenta que a saúde oral está identificada como área prioritária para a atuação da CIM. São cerca de cinco mil alunos abrangidos, pertencentes aos 23 agrupamentos escolares da região.
Consultório móvel vai percorrer as escolas do 1.º ciclo, dos 14 concelhos da região Viseu Dão Lafões
Conferência “Definir uma nova agenda no pós-pandemia”:
www.facebook.com/watch/?v=505337444311391
“A OMD crê convictamente estarem reunidas as condições para que sejam finalmente concretizadas algumas das promessas do passado e para que o país assuma de uma vez por todas uma estratégia nacional capaz de acautelar as reais necessidades dos portugueses no domínio da saúde oral.”
“Ainda há muito trabalho a fazer para integrar a saúde oral nos sistemas de saúde geral. Trabalhar em conjunto para implementar soluções efetivas pode ajudar na prevenção e controlo das doenças orais. Os sistemas de saúde podem ser otimizados e reforçados, ao integrar a promoção da saúde oral. O acesso a cuidados de saúde oral de qualidade deve estar garantidos para todos.”
“PNPSO 2021-2025 é robusto, promove ao autocuidado nos vários grupos populacionais, promove o desenvolvimento de medidas preventivas em contexto escolar e disponibiliza acesso aos cuidados de saúde oral preventivos e curativos, especialmente aos grupos populacionais mais vulneráveis.”
“Em Portugal, a perceção da importância na saúde oral no bem-estar das populações e a dimensão dos problemas que a condicionam têm vindo a construir-se progressivamente e o panorama tem vindo a mudar radicalmente, principalmente nas crianças e jovens, nos quais os níveis de saúde oral foram drasticamente melhorados.”
ORDEM · Estudo sobre o custo de tratamentos em medicina dentária
“É uma ferramenta de gestão que pode ser utilizada por quem tem de gerir uma clínica de medicina dentária”
Em março, a Ordem dos Médicos Dentistas apresentou o estudo realizado pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, intitulado “Apuramento do Custo de Tratamentos em Medicina Dentária”. Um trabalho dinamizado pelo grupo de trabalho (GT) da OMD Seguros e Convenções e conduzido pelos professores da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, Luís Coelho e Rúben Peixinho.
Esta pesquisa estima o custo associado a 50 tratamentos e tem como propósito contribuir para elevar a qualidade na gestão das clínicas de medicina dentária, salvaguardando o superior interesse dos pacientes.
A Revista da OMD conversou com o coordenador do GT da Ordem, Rui Paiva, sobre a importância deste estudo para a classe e as ações planeadas face aos resultados obtidos.
ROMD - O GT Seguros e Convenções acaba de apresentar o estudo “Apuramento do custo de tratamentos em medicina dentária”. Quais as principais ilações que retira desta pesquisa?
RP - Uma das principais ilações que se podem retirar deste estudo é que a prestação de serviços de medicina dentária tem obviamente um custo, que a partir de agora está descrito e quantificado, de modo rigoroso e pormenorizado para 50 tratamentos criteriosamente escolhidos, e que representa larga fatia da nossa atividade diária.
Outra ilação que facilmente se retira é que o superior interesse do paciente, e o seu direito a receber o melhor tratamento para o seu caso, está a ser colocado em risco, para não dizer impossibilitado, quando se praticam tabelas com preços gratuitos ou abaixo do custo.
ROMD - Como surgiu a intenção de apurar os custos dos atos de medicina dentária?
RP- Faz parte das atribuições estatutariamente definidas da OMD assegurar que os pacientes tenham acesso a uma medicina dentária qualificada e, ainda, zelar pela sua dignidade e prestígio.
O Conselho Diretivo está atento ao mundo real que nos rodeia e, quando nos apercebemos da proliferação de práticas comerciais com preços aparentemente baixos, isso levanta dúvidas acerca da viabilidade económico-financeira de tais preços e, consequentemente, do respeito pela qualidade e segurança dos tratamentos prestados. Claro que, quando o tratamento é anunciado como gratuito, não há dúvidas… Ou seja, fazer uma consulta de medicina dentária com uma extração de um dente por 20 euros é barato, é caro ou está equilibrado? A questão é que a resposta era dada de modo empírico, até à realização deste estudo. A partir de agora existe uma base que permite comparar o custo efetivo de determinado tratamento com o que é pago à clínica e ao prestador.
Tudo isto é corroborado pelo estudo feito com os jovens médicos dentistas que, fruto da conjuntura atual da profissão, são tendencialmente quem mais trabalha com preços baixos. Os resultados foram apresentados em abril de 2022 e revelam que a maioria considera que a qualidade do tratamento pode estar seriamente comprometida com preços abaixo do indicado. Apontam como razões para tal, por exemplo, o facto de o tratamento ser realizado de forma menos minuciosa e mais rápida, com menos atenção e cuidado para o problema global do paciente, uma vez que o tempo disponibilizado para o efeito é insuficiente, o que prejudica a relação médico-paciente, levando à falta de motivação, desgaste e frustração do médico e, ainda, ao uso de materiais de qualidade inferior.
ROMD - Estando a OMD legalmente impedida de estabelecer tabelas de honorários, de que forma este estudo pode ser aproveitado pela classe?
RP - Trata-se de uma ferramenta de gestão que pode ser utilizada por quem tem de gerir uma clínica de medicina dentária, independentemente da sua dimensão. Tem informação pormenorizada acerca da estrutura de custos envolvidos que pode, e deve, ser aproveitada por quem tem de tomar decisões de gestão numa clínica. Penso que pode ainda servir para que os colegas que são prestadores de serviços, e não têm função de gestão, fiquem com uma noção mais clara da realidade do setor.
ROMD - Estamos perante um documento de apoio importante para os médicos dentistas que trabalham com convenções e seguradoras?
RP - Claro que não escondemos que o principal destinatário deste estudo são as seguradoras, as empresas que vendem planos de saúde, que mais não são do que cartões de desconto, e as entidades que estabelecem convenções com médicos dentistas, como por exemplo a ADSE. Num mundo ideal, a sensibilização dessas entidades, e das demais que regulam e fiscalizam, surtiria efeito na nossa atividade e o mercado ficaria mais equilibrado, dissolvendo-se as dúvidas acerca do respeito pelo superior interesse do paciente, em primeiro lugar, e pela saúde financeira das clínicas de medicina dentária, em segundo. Fator esse, imprescindível para que o referido interesse do paciente seja salvaguardado.
ROMD - Concluído e apresentado o estudo à classe, quais são os próximos passos que o GT planeia dar?
RP - O Conselho Diretivo e o bastonário iniciaram já uma ronda de apresentação do estudo a seguradoras e entidades diversas, como a Associação Portuguesa da Seguradores, ADSE, Entidade Reguladora da Saúde, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, Autoridade da Concorrência, Inspeção-Geral de Atividades em Saúde, Centro de Informação, Mediação, Provedoria e Arbitragem de Seguros e DECO. Infelizmente, já fomos recebendo respostas negativas aos nossos pedidos de audiência. Estão, ainda, previstas ações de sensibilização da classe para esta problemática e campanhas de alerta dirigidas ao grande público.
O GT está ainda a envidar esforços no sentido de desenvolver uma aplicação informática que permita particularizar situações individuais, de modo a facilitar a obtenção de valores adaptados à realidade de cada um.
O trabalho da Universidade do Algarve estima o custo associado a 50 tratamentos, partindo do modelo de uma ‘clínica padrão’, ou seja, um equipamento dentário com um médico dentista e um assistente dentário, com utilização de materiais com custo médio de mercado, custos de estrutura de qualidade média, capacidade teórica de horas de atendimento/ ano de 1849 e capacidade prática de horas de atendimento/ ano de 1380.
Entre as principais conclusões, destaque para o facto de que o peso dos custos indiretos representa (em média) cerca de 70% da estrutura total, sendo que a despesa com o pessoal é de 68,2% do total de custos indiretos (considerando que não existe um valor único que seja utilizado como padrão por todos os consultórios, os honorários médicos foram calculados por comparação com a carreira pública de médicos especialistas). Se considerarmos um cenário com dois ou três gabinetes, adianta a pesquisa, os custos por tratamento médico-dentário não são muito diferentes. Em média, há um aumento de dois e três porcento, respetivamente. Este acréscimo é mais notório nos tratamentos cujo peso dos custos indiretos é maior. “Os cálculos efetuados permitem identificar o aumento do custo indireto/hora de 89,18€ (cenário base) para 91,72€ no caso das clínicas com dois gabinetes e 92,94€ no caso das clínicas com três gabinetes”, lê-se no documento.
Este estudo não visa fixar preços mínimos, nem máximos, ou sequer médios, nem interferir na determinação dos mesmos, os quais podem e devem ser estabelecidos livremente por cada prestador de serviços, tendo por base os princípios deontológicos aplicáveis.
Consulte o “Apuramento do Custo de Tratamentos em Medicina Dentária”, em www.omd.pt/content/uploads/private/2022/03/apuramento-custos-tratamentos-medicina-dentaria.pdf
Em maio, os autores do estudo “Apuramento do custo de tratamentos em medicina dentária”, Luís Coelho e Rúben Peixinho, professores da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, participaram num webinar, organizado pela OMD , que está disponível em www.omd.pt/2022/05/custos-tratamentos-video (reservado a membros).
Esta sessão, que teve grande adesão, permitiu esclarecer a classe sobre este tema e abordar mais detalhadamente as conclusões do estudo. O webinar foi moderado por Fabião de Castro da Silva, membro do Conselho Diretivo e do grupo de trabalho Seguros e Convenções e contou com a participação de Rui Paiva.
ORDEM · Estudo aos Jovens Médicos Dentistas
O Conselho dos Jovens Médicos Dentistas divulgou os resultados de um inquérito realizado aos profissionais com menos de 35 anos, que expõe as dificuldades encontradas na hora de entrar no mercado de trabalho. Um cenário que se prolonga a médio prazo.
O Estudo aos Jovens Médicos Dentistas permite concluir que a maioria destes profissionais exercem em uma (38%) ou duas clínicas (26%), sendo que apenas 17% referem ter contrato. Estamos, portanto, perante um grupo que trabalha por conta própria (70%), ou seja, a recibos verdes, e que atende, em média, seis a 10 pacientes num único dia (42,7%) - embora 40% ultrapasse a dezena de consultas diárias.
Número de pacientes atendidos num dia de trabalho
Também em termos de rendimentos, é notória a precariedade. Dois terços dos médicos dentistas com menos de 30 anos auferem menos de 1.500 euros brutos mensais e um terço recebe menos de 1.000 euros, o equivalente a cerca de 750 euros líquidos mensais. É ainda possível aferir que os inquiridos ganham tendencialmente menos, trabalhando o mesmo tempo que os demais colegas.
De salientar que 29,1% demorou entre um a dois anos a auferir mais que 750 euros de salário líquido, desde que terminou o curso.
Os jovens médicos dentistas sem atividade remunerada estão atualmente, na sua maioria, à procura de emprego (64,5%) ou optaram por outra profissão (16,1%), sendo a falta de realização monetária a principal razão para seguirem uma via alternativa.
Caracterização dos rendimentos dos jovens médicos dentistas a exercer em Portugal, com atividade profissional remunerada
No caso dos médicos dentistas com menos de 35 anos que estão no ativo, 92,5% exercem em clínicas e consultórios privados, 4,1% em hospitais privados e 2,4% em centros de saúde.
No privado impera a regra da percentagem. Quase 78% trabalham sob este regime, em que cerca de metade aufere entre os 31 e os 40% do valor do ato médico. Dos 97,3% que estão maioritariamente em clínicas/hospitais privados ou noutras tipologias, 32,6% trabalham num grupo/rede de clínicas e 69% exercem em locais que praticam acordos com seguros, convenções e planos de saúde. Destes profissionais, 43,3% referem fazer consultas de medicina dentária gratuitas e 33,5% realizam atos médicos gratuitos, sendo que 53,8% destes acreditam que estes atos prejudicam a qualidade da consulta prestada ao cliente.
Já no setor público, dos 2,7% que estão em centros de saúde ou hospitais do SNS, 48,9% estão contratados a recibos verdes, através de empresas intermediárias, e 40,4% estão igualmente no regime de prestação de serviços, mas diretamente com as Autoridades Regionais de Saúde (ARS).
A saturação de médicos dentistas em Portugal, a pouca valorização destes profissionais e da própria saúde oral por parte da população, as fracas condições de trabalho e a renumeração ou percentagens desmotivadoras são as principais razões pelas quais mais de metade dos jovens médicos dentistas estão descontentes com a profissão. Aliás, 32% indicam que se pudessem voltar atrás escolheriam outra carreira, e perto de 25% pretendem completar os estudos com outra área, de forma a poderem exercer outra profissão.
Por outro lado, a medicina dentária é uma profissão que exige formação constante. Quarenta por cento dos inquiridos investiram mais de metade dos rendimentos no último ano neste âmbito. Destes, 25% apostaram em formação considerada base – o que evidencia deficiências no ensino universitário (mestrado integrado) e pressão do mercado laboral.
Jovens médicos dentistas a exercer no estrangeiro
Paralelamente, o inquérito permitiu apurar que 16% dos médicos dentistas mais jovens estão a trabalhar fora de Portugal, sendo que muitos não chegam a inscrever-se na Ordem e procuram diretamente trabalho no estrangeiro. Emigram à procura de melhores rendimentos (86%), melhor qualidade de vida (72%) e maior valorização da profissão (66%). Motivos pelos quais, aproximadamente 40% não antevejam um regresso a Portugal. As diferenças salariais (quase metade aufere mais de 5.000 euros líquidos mensais) e a estabilidade laboral justificam esta opção.
O inquérito, que recebeu mais de 2400 respostas (num universo de 4.745 profissionais com inscrição ativa e cédula superior a 8500), teve como objetivo enquadrar o contexto socioeconómico de quem inicia a profissão.
O estudo está acessível no Observatório da Saúde Oral em http://www.omd.pt/observatorio/jovens-medicos-dentistas/
ORDEM · Boas Práticas de Publicidade em Saúde
“A Ordem dos Médicos Dentistas sempre acompanhou a evolução das necessidades e cuidados de saúde oral em Portugal. Contribui ativamente para uma medicina dentária de qualidade e no respeito pelos direitos dos doentes, regulando e defendendo no âmbito das suas competências, a atividade do médico dentista no quadro dos desafios e dificuldades do dia a dia”.
Estas palavras, que compõem o primeiro parágrafo do Manual de Boas Práticas de Publicidade em Medicina Dentária, recentemente publicado, são as mesmas que movem este grupo desde a sua génese, em setembro de 2020.
A publicidade é por definição criativa e de rápida evolução. Cria tendências e modas que seguem, nos dias de hoje, a uma velocidade estonteante.
A publicidade em medicina dentária não é exceção e deve refletir os nossos valores, o respeito pelos doentes, o respeito pelos colegas, tendo como pedra angular aquilo que nos define enquanto médicos dentistas patente, ainda há bem pouco tempo, no compromisso de honra assumido pelos colegas recém-licenciados.
O Grupo de Trabalho de Publicidade, movido pela visão de informar toda a classe acerca das principais leis, regras e regulamentos de publicidade em saúde, propôs-se de imediato a criar um documento que pudesse chegar facilmente a todos os colegas. Queríamos algo que fosse de pesquisa rápida, fácil de consultar e simples de interpretar.
As leis e regulamentos são por vezes complexas e sempre sujeitas a diferentes interpretações.
Assim, procurou-se desde a primeira palavra resumir os principais artigos do Código Deontológico, dos Estatutos da Ordem dos Médicos Dentistas e, também, do Código da Publicidade em Saúde. Naturalmente, o suporte jurídico foi de extrema importância.
Por conseguinte, não foi fácil simplificar. Mas acreditamos que conseguimos e esperamos chegar a todos com esta nossa forma simples de expor o que à partida era complicado.
O nosso objetivo último será sempre que os colegas não hesitem em fazer-se anunciar, mas com consciência daquilo que é recomendado e permitido. Mas também do que é desaconselhado e proibido.
Em nome do Conselho Diretivo desta Ordem, que delegou em nós a tarefa de nos debruçarmos sobre este tema, convidamos os colegas médicos dentistas a ler e reler o Manual. Em formato papel, digital, num dia, um mês ou num ano. E embarquem connosco no maravilhoso mundo da criatividade com critério e respeito pelos demais.
Disse Madre Teresa de Calcutá “quem não vive para servir, não serve para viver”.
O Grupo de Trabalho de Publicidade estará sempre ao dispor da classe para continuar a servir uma medicina dentária de excelência, pelos portugueses, melhor que ontem e pior que amanhã.
O Grupo de Trabalho de Publicidade
Poderá consultar o Manual de Boas Práticas de Publicidade em Saúde para Médicos Dentistas em www.omd.pt/content/uploads/2022/03/manual-boas-praticas-publicidade-medicos-dentistas.pdf
ORDEM · Turismo em medicina dentária
Conciliar um tratamento médico-dentário com uma viagem turística a um destino atrativo com está cada vez mais na moda. Razão pela qual, a Ordem dos Médicos Dentistas constituiu o grupo de trabalho Turismo em Medicina Dentária, que está neste momento a realizar um inquérito à classe sobre esta tendência.
O objetivo passa por “mapear” a situação atual em Portugal e entender quais são os interesses e preocupações dos médicos dentistas sobre este assunto”, explica o coordenador do grupo, Fernando Arrobas.
Foi em 2018 que a Organização Mundial do Turismo identificou o turismo de saúde como um produto em crescimento.
Destinos como a Turquia, Espanha, Tailândia ou México estão entre as preferências de quem procura estes cuidados fora do país de residência. Em termos gerais, o turismo dentário poderá crescer 12% por ano e ultrapassar os cinco bilhões de dólares em 2025 (de acordo com o relatório Adroit Market Research). Portugal está a preparar-se para entrar nesta corrida, nomeadamente através do projeto do Turismo de Portugal, a AICEP e a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada: “Medical Tourism in Portugal - Health, Wellness and Tourism do Health Cluster Portugal”.
“A capacidade infraestrutural (mais de 5.500 clínicas) e de recursos humanos (mais de 11. 500 médicos dentistas) da medicina dentária portuguesa tornam-na uma especialidade muito relevante nesta estratégia”, esclarece Fernando Arrobas, coordenador do grupo de trabalho da OMD.
Portugal na rota do turismo de saúde
Desde 2018 que este segmento se tornou uma das prioridades da Estratégia do Turismo de Portugal. No caso da medicina dentária, esclarece Fernando Arrobas, “a maior prova do crescimento deste fenómeno é o imenso número de clínicas dentárias que já contemplam nos seus websites um separador só dedicado ao turismo de saúde”.
O projeto “Medical Tourism in Portugal” destina-se a “promover internacionalmente o nosso país como destino de saúde e definiu três objetivos fundamentais: aumentar significativamente a prestação de serviços médicos ao exterior; afirmar Portugal como um destino de turismo médico de alta qualidade clínica e tecnológica; integrar unidades hospitalares e hoteleiras de excelência, que garantam cuidados médicos de alto nível e oportunidades de convalescença em ambientes atraentes e acolhedores”, explica o responsável.
A posição da OMD
Fernando Arrobas, coordenador do grupo de trabalho Turismo em Medicina Dentária
Face ao crescimento significativo da mobilidade e das viagens médicas internacionais, e “considerando que a medicina dentária é uma das especialidades com maior procura”, o Conselho Diretivo da Ordem aprovou recentemente uma posição em relação ao turismo de medicina dentária. “A OMD deve assumir um papel regulador no quadro legal das suas atribuições, colaborando com as entidades responsáveis nesta matéria para a produção de pensamento e com as entidades competentes em matéria da prestação dos cuidados de saúde transfronteiriços (Cfr: Diretiva 2011/24/UE, de 9 de Março de 2011 e Lei nº52/2014, de 25 de agosto)”, refere. E “disponibilizando os contactos oficiais das entidades governamentais competentes no âmbito do turismo de saúde”, acrescenta.
Nesta tomada de posição, a Ordem vai acompanhar “a emissão de normativas de qualidade para a atividade de turismo médico (ISO 22525:2020), bem como de posições e resoluções de organismos internacionais (CED e FDI)” (ver caixa).
Fernando Arrobas salienta ainda que cabe à associação pública profissional manter “os médicos dentistas atualizados sobre questões éticas/legais/regulamentares relacionadas com o exercício da medicina dentária e de turismo de saúde” e alertar para “a exigência dos requisitos de funcionamento das clínicas dentárias no quadro do regime legal de licenciamento em Portugal”. Enquanto regulador, cabe à Ordem exercer “as suas atribuições de natureza disciplinar” e reforçar a “importância da relação médico-doente, em particular em temas como consentimento informado, continuidade da assistência clínica, acesso e disponibilização de documentação clínica”.
Este posicionamento visa contribuir “para a imagem de Portugal como destino médico-dentário seguro e de qualidade”.
Investimento ou risco?
Questionado se o turismo de medicina dentária traz apenas vantagens, o coordenador do GT da OMD reconhece os benefícios económicos, tais como a “diversificação de mercados e aumento do volume de negócios, o estabelecimento de redes colaborativas com parceiros de outros setores, as economias de escala na produção, a criação de emprego e a atração de setores aliados (Investigação & Desenvolvimento, indústria farmacêutica, equipamentos)”.
No entanto, lembra, há pontos a acautelar. Entre eles, as “falsas expectativas e confusão entre “férias” e “tratamentos médicos” ou o “possível aumento generalizado de preços e a diminuição de acesso por parte das comunidades locais”. O responsável fala ainda de relatos de sobretratamento, reduzida qualidade dos tratamentos e ausência de follow-up. “As preocupações éticas (consentimento informado, transferência de dados pessoais e clínicos, continuidade da assistência clínica)” e a “migração de recursos humanos do público para o privado e de zonas rurais para zonas urbanas” constituem outros dos riscos deste segmento.
CED aprova statement sobre turismo de medicina dentária
No final do ano passado, o Conselho Europeu de Médicos Dentistas (CED) aprovou uma declaração sobre turismo em medicina dentária e saúde transfronteiriça. O documento apresenta a posição do CED em relação à Diretiva 2011/24/EU, que diz respeito aos direitos dos pacientes nos cuidados de saúde transfronteiriços, e avalia em que medida esta diretiva facilita o acesso a tratamentos médico-dentários seguros e de qualidade noutros Estados-membros.
Na altura, Gonçalo Assis, membro do Conselho Diretivo da Ordem e National Liaison Officer na Federação Dentária Internacional (FDI), explicou à Revista da OMD que “poderemos identificar a nível europeu interesses potencialmente contraditórios entre países cujos doentes procuram serviços de medicina dentária no estrangeiro e os que os recebem, e que têm que ser ponderados”. “Neste momento, a preocupação que une todos os países e as suas entidades de regulação é a de que os tratamentos de medicina dentária realizados fora do país de origem resultem de uma avaliação clínica cuidada a montante e resultem num acompanhamento adequado a jusante, após o tratamento ou reabilitação”, sustentou.
A resolução do CED vai nesse sentido e denota a preocupação em salvaguardar a segurança dos doentes.
ENTREVISTA
Ihsane Ben Yahya
Presidente da Federação Dentária Internacional
Quero reforçar a importância da literacia em saúde oral, especialmente para as gerações mais jovens
Ihsane Ben Yahya assumiu a presidência da Federação Dentária Internacional (FDI), em 2021. Em março, viajou até Portugal para participar nas celebrações do Dia Mundial da Saúde Oral e para conhecer a dinâmica da Ordem dos Médicos Dentistas.
A Revista da OMD conversou com Ihsane Ben Yahya sobre a sua visão para a FDI, os três eixos estratégicos para a saúde oral e a importância de cada membro na sua atuação global.
ROMD - Desde 2013 que se assinala o Dia Mundial da Saúde Oral a 20 de março. Quase 10 anos depois porque continua a ser tão importante assinalar esta data?
IBY - Celebrado todos os anos no dia 20 de março, o Dia Mundial de Saúde Oral (DMSO) é um dia importante para a FDI pedir ao mundo que se una num objetivo comum: reduzir o peso que as doenças orais representam e que afetam as pessoas, os sistemas de saúde e as economias em todo o mundo. O objetivo é capacitar as pessoas para que tenham o conhecimento, as ferramentas e a confiança para assegurarem uma boa saúde oral.
Embora tenhamos feito progressos na sensibilização para as condições orais, a má saúde oral continua a afetar, a nível mundial, cerca de 3,5 bilhões de pessoas e com amplas consequências. Infelizmente, as pessoas tendem a não perceber o grave impacto que as doenças orais podem ter na saúde geral, na qualidade de vida, na felicidade e no bem-estar, o que se reflete no tema da campanha do DMSO 2022: “Tem orgulho na tua boca. A saúde oral afeta a felicidade e o bem-estar”. A campanha do DMSO deste ano incentivou ações concertadas entre grupos de stakeholders – o público em geral, governos e decisores políticos, e a indústria médico-dentária – para abordar o peso da doença oral.
“Tem orgulho na tua boca” não incide apenas em ter uma boca perfeita. Trata-se de ter uma boca saudável. Embora o DMSO seja celebrado anualmente num dia específico, é importante relembrar que os esforços contínuos são essenciais para alcançar o nosso objetivo de melhor saúde oral para todos.
Sugiro vivamente que continuem a usar os recursos desenvolvidos pela FDI para a campanha do DMSO e que estes sirvam de inspiração para uma boa saúde oral:https://www.worldoralhealthday.org/
ROMD - Este ano esteve em Portugal, a convite da OMD, para participar nas comemorações do DMSO. Que balanço faz desta visita?
IBY - Foi realmente uma honra poder participar presencialmente nas celebrações do DMSO organizadas pela Ordem dos Médicos Dentistas, na minha qualidade oficial de presidente da FDI. Foi um grande prazer reencontrar-me com amigos e colegas num evento marcante, onde tive igualmente a oportunidade de proferir algumas palavras sobre a Campanha do DMSO 2022 e sublinhar os esforços das nossas associações dentárias nacionais na promoção da saúde oral e na prevenção de doenças orais.
Os nossos membros estão no centro de tudo o que fazemos e um dos principais desafios da FDI é garantir que os interesses de todos, em todas as regiões do mundo, sejam atendidos. É apenas na sua auscultação e aprendendo com os respetivos conhecimentos e experiência de cada um, a nível nacional, que a FDI poderá fortalecer o impacto do seu trabalho a nível global.
ROMD - O que é mais urgente trabalhar para que haja um maior equilíbrio a nível mundial em termos de uma boa saúde oral?
IBY - Convido-os a ler o relatório da FDI “Visão 2030: Oferecendo a melhor saúde oral para todos”, que identifica as prioridades para alcançar a melhor saúde oral para todos. Adicionalmente, o relatório sublinha os desafios que a medicina dentária e a comunidade de saúde oral vão enfrentar durante a próxima década.
Também são apresentadas estratégias de como estes desafios podem ser transformados em oportunidades para melhorar a saúde oral, reduzir as desigualdades e contribuir para a diminuição do peso das doenças orais. O Visão 2030 orientará o trabalho da FDI no futuro próximo e tem como objetivo auxiliar a profissão na prossecução da melhor saúde oral para todos – sem deixar ninguém para trás. O relatório é construído com base em três eixos, cada um com uma meta principal.
• Eixo 1: Até 2030, os serviços essenciais de saúde oral serão integrados nos cuidados de saúde em todos os países e a prestação adequada de cuidados de saúde oral será disponibilizada e acessível para todos.
• Eixo 2: Até 2030, os cuidados de saúde oral e geral, centrados no paciente, serão integrados, levando a uma prevenção e gestão mais eficazes de doenças orais e melhoria da saúde e do bem-estar.
• Eixo 3: Até 2030, os profissionais de saúde oral colaborarão com uma equipa multidisciplinar de saúde, de modo a prestarem cuidados de saúde sustentáveis, baseados nas necessidades de saúde e centrados no paciente.
Estes eixos são sustentados por uma estratégia de formação que criará uma profissão resiliente e eficiente, com conhecimentos e competências para a condução de reformas dos sistemas.
ROMD - A OMS tem dado especial atenção à saúde oral. A estratégia definida está alinhada com o Visão 2030? Estamos perante um ponto de partida para uma efetiva cobertura global dos cuidados de saúde oral?
IBY - A FDI louva a resolução histórica da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre saúde oral, adotada pelos governos em maio de 2021, e o subsequente projeto de estratégia global sobre a saúde oral a ser aprovado em Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2022. Trata-se de um passo significativo no reconhecimento da importância da saúde pública global das principais doenças e condições orais, demonstrando também que há vontade política para abordar as questões de saúde oral. A visão da estratégia atual está totalmente alinhada com a própria Visão 2030 da FDI e refere-se igualmente aos três elementos da cobertura universal de saúde — qualidade, acesso equitativo e proteção financeira — no contexto da promoção e dos cuidados de saúde oral.
Sendo aprovada em maio de 2022, a estratégia permitirá o desenvolvimento de um plano global de ação sobre a saúde oral, incluindo o enquadramento necessário para acompanhar o progresso através de metas claras e mensuráveis a serem alcançadas até 2030. Existe também consenso de que a saúde oral deve ser firmemente incorporada na agenda de doenças não transmissíveis e que os cuidados de saúde oral devem ser incluídos nos programas de cobertura universal de saúde.
Todos os países podem beneficiar da estratégia de saúde oral e das oportunidades que as ações de acompanhamento suscitarão. No entanto, haverá diferenças específicas entre cada país e região, em termos de desafios enfrentados na saúde oral, assim como diferenças nas prioridades de saúde e recursos disponíveis. Portanto, não pode haver uma abordagem “de tamanho único”. Nesse sentido, a FDI incentiva os seus membros em cerca de 130 países, e a comunidade de saúde oral em geral, a utilizarem esses desenvolvimentos como alavanca política e a garantirem que tenham um “lugar à mesa das negociações” quando estratégias nacionais estão a ser desenvolvidas e no apoio à sua implementação, para além de responsabilizar os governos no cumprimento de metas na saúde oral.
ROMD - E qual é a sua visão para a FDI?
IBY –Gostaria, em primeiro lugar, de me focar na ambição. Em conjunto com os nossos membros, quero reforçar a importância da literacia em saúde oral, especialmente para as gerações mais jovens. As nossas crianças devem aprender sobre a sua saúde oral e estar sensibilizadas para o impacto que tem na qualidade de vida, bem como na sua aceitação e integração social. Devemos trabalhar para reduzir o número de dias letivos perdidos devido à dor ou infeção dentária e reforçar a importância da literacia em saúde oral para que os jovens estejam bem informados e aptos a defender o seu direito à saúde oral.
Em segundo lugar, quero ajudar os profissionais de saúde oral em todo o mundo na acessibilidade à educação e formação para estabelecer e manter seus conhecimentos.
Não obstante manter a identidade da FDI, gostaria igualmente de consolidar as conquistas dos meus antecessores e de prestar à saúde oral o nível de reconhecimento que realmente merece.
Por último, espero reforçar os nossos valores e ética, em termos de igualdade e transparência no trabalho e nas relações da FDI com os nossos parceiros.
ROMD - É a primeira mulher oriunda de um país africano a liderar a FDI. O que representa para si este cargo?
IBY - É uma honra ser a primeira africana a assumir a posição de presidente da FDI. Não pouparei esforços para garantir que a FDI mantenha a sua visibilidade e a sua voz e seja inclusiva, de modo a reduzir as desigualdades na saúde oral para que as populações mais desfavorecidas não sejam deixadas para trás.
A bandeira de Marrocos foi hasteada através das fronteiras e isso é uma fonte de grande orgulho para mim. Sempre fiz campanha por uma medicina dentária ética, que atenda às necessidades da população marroquina e aos seus direitos a nível nacional. Atualmente, Marrocos tem uma influência internacional (até global), o que significa que a voz dos profissionais de saúde oral no meu país poderá ser ouvida a par dos nossos outros colegas membros da FDI.
NACIONAL · Plano Nacional de Saúde
É a primeira vez que o Plano Nacional de Saúde tem como horizonte a década, reconhecendo assim a complexidade do setor e a importância de considerar as necessidades das próximas gerações.
O PNS 2021-2030 esteve em consulta pública até ao início de maio e a Direção-Geral da Saúde convidou cidadãos, empresas e associações a participarem na discussão das linhas a seguir para melhorar a saúde da população e reduzir as iniquidades no setor.
Com o mote “Saúde Sustentável: de tod@s para tod@s”, este planeamento não quer deixar “ninguém para trás, preservando o planeta, em simultâneo, e sem comprometer a saúde das gerações futuras”. “Numa saúde que se quer mais equitativa, abrangente e integrada, o PNS reconhece a complexidade dos determinantes de saúde e visa a inovação na sua abordagem, tendo em conta as necessidades das próximas gerações”, lê-se na apresentação do documento.
A OMD participou ativamente, enviando uma série de contributos para uma discussão ativa e ampla das políticas a desenvolver nos próximos anos. O grupo de trabalho Saúde Pública Oral lamentou o facto de existirem poucas referências à saúde oral, realçando que nenhuma das doenças orais “foram consideradas” um problema que seja “sentido pelas populações” e careça “de resolução”. A Ordem constatou ainda que esta componente não consta dos 37 objetivos e propôs a realização de “um novo Estudo Nacional de Doenças Orais com a maior brevidade possível”, já que os dados estatísticos não vão além de 2014.
Por outro lado, sugeriu que o médico dentista seja encarado “como ator de saúde pública, pelo facto de serem profissionais de saúde diferenciados, que estão em contacto com o doente em situações de doença, mas também em situações de saúde (revisões e manutenções)”. Alertou também para a necessidade de integrar os profissionais no sistema público, através da criação da carreira.
Na proposta, a Ordem referiu apoiar “as orientações emanadas da FDI e da OMS para as estratégias nas políticas de saúde oral” para a década baseadas em “três pilares fundamentais: até 2030, os serviços essenciais de saúde oral deveram estar integrados nos cuidados de saúde de todos os países; os cuidados de saúde oral e geral centrados na pessoa serão integrados, levando a mais eficácia na prevenção e gestão de doenças bucais e melhoria da saúde oral e bem-estar; os profissionais de saúde bucal vão colaborar com uma vasta gama dos profissionais de saúde” para responderem às necessidades de saúde.
Toda a informação detalhada do PNS está acessível em
https://pns.dgs.pt.
NACIONAL · Marta Temido reconduzida NO CARGO
Ministra da Saúde, Marta Temido
Marta Temido mantém a pasta da Saúde no novo Governo de António Costa, que inicia este mandato com maioria absoluta. Para a OMD, esta estabilidade e as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência constituem o momento certo para uma profunda reforma do planeamento dos cuidados de saúde oral disponibilizados aos portugueses.
Na reunião com as ordens da saúde, Miguel Pavão apresentou uma proposta para a criação de uma comissão de estratégia e planeamento para a saúde oral. O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas reitera que é urgente reformular o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO), vocacionando-o para as atuais necessidades da população e para o investimento na prevenção, através de diferentes modelos de acesso aos cuidados, tanto públicos, como privados e do setor social. “Reverter esta realidade é complexo e carece de uma abordagem multidimensional, que permita uma articulação transversal e integrada de políticas públicas de saúde, tendo em vista a diminuição da carga de doenças orais”, afirma Miguel Pavão.
O responsável salientou que urge definir um plano estratégico a curto, médio e longo prazo, que contemple também a redução do número de vagas nas faculdades de medicina dentária.
O bastonário propôs também a instalação de gabinetes de medicina dentária em todos os centros de saúde e a integração dos médicos dentistas nas Administrações Regionais da Saúde para, em articulação com a Direção-Geral da Saúde, gerirem as equipas locais e regionais e até a equipa nacional do PNPSO, que classicamente tem sido entregue a profissionais sem formação específica em saúde oral. Não esquecendo a carreira no SNS, que tem sido consecutivamente adiada.
A OMD defendeu o alargamento do cheque-dentista a novos segmentos, nomeadamente o cheque-urgência para traumatismos, e uma revisão nas ajudas técnicas como, por exemplo, para as próteses dentárias. A OMD reivindicou ainda a revisão do valor do cheque-dentista, reduzido desde 2014, no âmbito do programa de resgate financeiro da Troika.
Verba para o setor
Marta Temido assume o dossier do financiamento da saúde, pelo que o bastonário aproveitou para questionar a ministra sobre a dotação de verbas para a saúde oral no Orçamento de Estado para 2022. Uma vez que, salientou Miguel Pavão, “o programa do Governo aprovado na Assembleia da República é muito vago em relação à saúde oral”.
Maria de Fátima Fonseca é a nova secretária de Estado da Saúde
Fonte: Ministério da Saúde
António Sales mantém o cargo de secretário de Estado e Adjunto da Saúde
Fonte: Ministério da Saúde
Durante o encontro, a ministra da Saúde reconheceu que é uma tarefa complexa e difícil reverter os atrasos de vários anos de investimento em saúde oral.
Por seu lado, o bastonário sublinhou que “a ministra já conhece os dossiers e é por isso a escolha ideal para fazer a diferença e implementar todas as promessas que têm sido feitas para mudar o paradigma da saúde oral em Portugal”.
No novo Governo, António Sales foi reconduzido no cargo de secretário de Estado Adjunto e da Saúde. Maria de Fátima Fonseca assume a pasta de secretária de Estado da Saúde.
NACIONAL · Convenção Nacional da Saúde
A Convenção Nacional da Saúde partilhou com todos os partidos políticos com assento parlamentar o Caderno de Encargos da Saúde para a legislatura 2022/2026. Este documento define aquelas que são, na ótica da CNS, as grandes prioridades para este setor.
As principais propostas elencadas pela Convenção assentam na visão do “cidadão no centro do sistema de saúde; a prevenção da doença e a promoção da saúde; a recuperação das listas de espera; o acesso à inovação terapêutica e às tecnologias de saúde em igualdade com outros cidadãos da União Europeia”.
Do documento constam ainda propostas como “o reforço da articulação entre os diversos agentes do sistema de saúde (público, privado e social); o reforço efetivo do investimento público em saúde, aproximando-o do valor médio dos países da União Europeia; a aposta na transição digital e a avaliação do combate à pandemia, através da criação de uma entidade independente”.
“A CNS considera que prevenir, diagnosticar atempadamente e tratar com as mais inovadoras tecnologias de saúde são premissas para uma maior qualidade de vida e longevidade dos portugueses”, lê-se no caderno de encargos.
A Convenção Nacional da Saúde reúne os representantes da saúde em Portugal: ordens profissionais, associações de doentes, farmácias, hospitais públicos, privados e sociais, instituições de saúde, misericórdias, laboratórios, indústria, centros de investigação e universidades.
Bastonário Na V Conferência
A V Convenção Nacional da Saúde (CNS), subordinada ao tema “Saúde | Prioridades para a Legislatura 2022 – 2026”, reuniu no passado dia 20 de abril, na Ordem dos Médicos, em Lisboa. A conferência contou com a participação de mais de 1000 pessoas (900 das quais via livestream).
Miguel Pavão, bastonário da OMD, moderou o painel sobre “Recuperação Assistencial Não Covid”, que juntou Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), Luís Costa, presidente do Colégio de Especialidade de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos (OM), Ema Paulino, presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) e Alexandra Antunes, vogal da Direção Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).
À Revista da OMD, o bastonário explicou que o debate permitiu abordar o panorama do sistema de saúde e os desafios que se colocam no atual contexto. “Sobressaiu a ideia de que a construção de melhores políticas públicas em saúde carece de envolvimento de vários intervenientes, assente num modelo buttom-up e que envolva todo o sistema de saúde, público, privado e social”, concluiu.
Reveja a sessão na íntegra em www.youtube.com/watch?v=LCPn-ZXdPSo.
NACIONAL · Reformulação dos produtos alimentares
Orelatório “Redução do teor de sal e açúcar nos alimentos”, divulgado em fevereiro, pela Direção-Geral da Saúde (DGS), mostra que, entre 2018 e 2021, houve uma redução global de 11,1% na quantidade de açúcar presente em cereais de pequeno-almoço, iogurtes e leites fermentados, leite achocolatado, refrigerantes e néctares. Quanto ao teor médio de sal, registou-se uma diminuição de 11,5% nas batatas fritas (e outros snacks), cereais de pequeno-almoço e pizzas.
Este documento avalia os progressos registados na reformulação de um conjunto de produtos alimentares, abrangidos pelo compromisso firmado, em 2019, entre o Ministério da Saúde, a DGS, e as principais associações do setor alimentar (Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares (FIPA), Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) e outras associações setoriais).
Em termos globais, no período em análise, verifica-se uma diminuição de cerca de seis mil toneladas de açúcar e cerca de 25 toneladas de sal nos produtos incluídos no acordo. No caso da quantidade de açúcar, a média atual é de 6,36g por 100g (era de 7,46g para 100g), sendo de destacar que três das categorias incluídas no compromisso atingiram a meta de redução estabelecida para este ano.
A ingestão excessiva de açúcares simples ou adicionados constitui um dos principais fatores de risco para a cárie dentária, que é uma das doenças não transmissíveis mais prevalentes a nível mundial.
Açúcar cumpre metas
O compromisso para a diminuição das quantidades de sal e açúcar presentes nos alimentos tem como referência o final deste ano, em que é expectável que metade das categorias em análise atinjam ou ultrapassem as metas definidas, como é o caso da quantidade de açúcar presente em alguns produtos, que já cumpriu os objetivos.
Há muito que a OMD alerta para as repercussões de hábitos alimentares inadequados na saúde oral. O Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da DGS e a Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS) querem reduzir alguns nutrientes que representam um risco para a saúde, particularmente o sal, o açúcar e as gorduras trans.
Este pacto com a indústria é um processo inédito que, em três anos, visou alguns dos produtos alimentares mais consumidos pelos portugueses. O “Relatório do progresso da Reformulação dos Alimentos em Portugal 2018-2021” está disponível em www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2022/02/Relat%C3%B3rio-reformulac%CC%A7a%CC%83o-produtos-alimentares.pdf
EUROPA · Ucrânia
Foi na madrugada de 24 de fevereiro que a Rússia invadiu a Ucrânia. De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 3,6 milhões de ucranianos já fugiram do país, originando a maior crise de refugiados da Europa, desde a Segunda Guerra Mundial.
A Organização Mundial da Saúde confirmou entretanto que a Rússia tem feito vários ataques a instalações médicas e que estas ações “violam a neutralidade médica e constituem violações do direito humanitário internacional”.
A presidente da Federação Dentária Internacional (FDI), Ihsane Ben Yahya, enfatiza igualmente o facto de que as “instalações médicas e profissionais de saúde não devem tornar-se alvos militares”. “A proteção dos profissionais de saúde, incluindo médicos dentistas e equipas, deve ser assegurada. A segurança dos profissionais de saúde deve ser garantida, e estes não devem ser impedidos de exercer as suas funções”, acrescenta.
Num voto de solidariedade com a comunidade de saúde e associações dentárias ucranianas, a federação apelou ao respeito pelos direitos humanos e lembrou a importância dos serviços de saúde neste contexto. “A FDI exige que os profissionais de saúde, incluindo os médicos dentistas, possam continuar o seu dever de atendimento com segurança. Todas as medidas necessárias devem ser tomadas para garantir que os pacientes e as vítimas tenham acesso seguro aos cuidados de saúde”, lê-se na nota.
Por fim, Ihsane Ben Yahya condenou o uso da força e as ações que têm impedido os médicos dentistas e outros profissionais de saúde de exercerem as suas funções, lembrando que estes atos violam a Convenção de Genebra e respetivos protocolos.
Mais de 300 médicos dentistas disponíveis
Quando despoletou a guerra, a Ordem dos Médicos Dentistas reuniu com os 35 dentistas ucranianos a exercer em Portugal para aferir necessidades.
Empenhada em contribuir para o esforço internacional de auxiliar os refugiados ucranianos, decidiu criar uma bolsa, na qual os médicos dentistas puderam manifestar a sua disponibilidade em três vertentes: cuidados médico-dentários sem custo, em contexto humanitário excecional e em contexto de voluntariado, a cidadãos ucranianos deslocados em virtude do conflito em curso na Ucrânia; ofertas de emprego ou alojamento.
Mais de 300 associados aderiram a esta causa e a OMD está atualmente em contacto permanente com o Alto Comissariado para as Migrações (ACM), que está a articular as disponibilidades da classe com as necessidades dos beneficiários de proteção temporária.
No caso de emprego ou alojamento, os membros interessados em ajudar devem registar-se no portal PortugalforUkraine. Esta plataforma foi desenvolvida pelo Governo português, estando disponível nas línguas portuguesa, inglesa e ucraniana, e agrega toda a informação para os refugiados e para os cidadãos e entidades que pretendem prestar apoio.
Para prestação de tratamentos sem custo, em contexto humanitário excecional e em contexto de voluntariado, a bolsa criada pela OMD mantém-se ativa, sendo que os interessados em integrar esta base de dados deverão preencher o formulário “Médicos dentistas apoiam Ucrânia”: https://www.omd.pt/formularios/ap9krd/ (acesso reservado a membros). Esta informação não dispensa a leitura detalhada da notícia que consta na página eletrónica da OMD: www.omd.pt/2022/03/apoio-refugiados-refugiados/.
EUROPA · Expodental Madrid
II Mesa Iberoamericana da Expodental
Em março, a IFEMA organizou mais uma edição da Expodental, em Madrid.
O evento, que foi promovido pela Federação Espanhola de Empresas de Tecnologia em Saúde (Fenin), teve como tema “Tecnologia ao Serviço dos Profissionais” e recebeu mais de 26 mil profissionais. A II Mesa Iberoamericana foi um dos pontos altos desta reunião, na qual se debateram aspetos importantes para a medicina dentária, como a formação em novas tecnologias, a otimização dos recursos e a aplicação da inovação digital no diagnóstico e tratamento dos pacientes.
Sob o tema “Novos Avanços na Medicina Dentária Mundial”, o presidente do Consejo de Dentistas de España, Óscar Castro, iniciou o debate com uma troca de experiências entre os profissionais dos países ibero-americanos, de Portugal e de Espanha.
Miguel Pavão, bastonário da OMD, foi um dos participantes nesta mesa redonda, na qual aproveitou para realçar as sinergias que os representantes dos médicos dentistas portugueses e espanhóis estão a desenvolver, não só no âmbito dos desafios comuns, mas também do intercâmbio de conhecimentos e da evolução tecnológica.
Os avanços e o crescente impacto da digitalização na medicina dentária estiveram em destaque neste debate, que juntou a presidente da FOLA (Federação Dentária Latino-Americana), Lupe Salazar, bem como os representantes das diversas organizações profissionais latino-americanas. Na II Mesa Iberoamericana participaram também o presidente do setor de medicina dentária da Fenin, Juan M. Molina, e a presidente da Comissão Organizadora da Expodental.
OMD na Expodental
O 31º Congresso da OMD também esteve presente na Expodental. A Comissão Organizadora da edição deste ano – representada pela presidente, Teresa Alves Canadas, e pelos membros, António Cabral e Patrícia Almeida Santos – deslocou-se a Madrid para promover o maior encontro de medicina dentária português.
Além dos vários contactos realizados, reuniram com Guillermo Pradines, presidente da SEPES, e Ana Garcia, gerente da SEPES. O Congresso da OMD está marcado para 17, 18 e 19 de novembro, em Lisboa.
(da esq. para dir.) António Cabral e Teresa Alves Canadas, membro e presidente da Comissão Organizadora do 31º Congresso da OMD, respetivamente, Guillermo Pradines, presidente da SEPES, e Ana Garcia, gerente da SEPES
EUROPA · European Regional Association
(da esq. para dir.) Ms Monika Lang, chefe de gabinete da ERO, Taner Yücel, secretário-geral, Edoardo Cavallé, presidente-eleito, Simona Dianiskova, presidente, Paula Perlea, conselheira, e Oliver Zeyer, conselheiro/tesoureiro
A European Regional Organization (ERO) reuniu no final de abril, em Bucareste, na Roménia, com os seus membros para analisar as atividades desenvolvidas por cada país e definir estratégias.
Na sessão plenária, os participantes aprovaram uma resolução de solidariedade à Ucrânia, manifestando o seu apoio à população, em particular aos médicos dentistas e respetivas equipas. A ERO apela aos estados membros para que continuem a dar suporte ao país e a ajudar ativamente as campanhas em curso (resolução disponível em www.erodental.org/).
Portugal esteve representado pelo bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, pelo membro do Conselho Diretivo e National Liaison Officer na Federação Dentária Internacional (FDI), Gonçalo Assis, e pelo presidente do Centro de Formação Contínua, António Roma Torres. A OMD contextualizou as atuais políticas de saúde oral e educação nesta área, pelo que realçou o facto de o setor público continuar a necessitar de investimento para poder dar uma efetiva resposta às necessidades da população.
A comitiva da Ordem apresentou ainda as suas principais preocupações, que estão relacionadas com as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde oral, o excesso de profissionais formados, o aumento dos grupos económicos de medicina dentária e a atuação das seguradoras.
António Roma Torres, presidente do Centro de Formação Contínua da OMD, Miguel Pavão, bastonário e Gonçalo Assis, membro do Conselho Diretivo e National Liaison Officer na Federação Dentária Internacional (FDI)
Durante os trabalhos, os delegados elegeram também o novo presidente da ERO. Dos cinco candidatos, o italiano Edoardo Cavallè foi eleito para o mandato 2022-2025.
Os grupos de trabalho realizaram encontros setoriais para fazerem o balanço das suas atividades. Neste momento, a ERO tem as seguintes equipas em ação: envelhecimento da população; prática liberal na Europa; relação entre os profissionais e as universidades de medicina dentária; integração; educação contínua; profissionais de medicina dentária; digitalização na medicina dentária; e e-health – inteligência artificial.
Os relatórios dos grupos de trabalho podem ser consultados na íntegra, em www.erodental.org/organs-and-bodies/plenary-session/bucharest-2022/reports.
GLOBAL
Marius Steigmann
Médico dentista
“O vínculo entre o paciente e o médico dentista mudou”
Marius Steigmann nasceu na Roménia, onde se licenciou, em 1988. Em 1990, mudou-se para a Alemanha para estudar implantologia na Universidade de Boston. Em 2005, concluiu o doutoramento na sua alma mater, em Târgu Mures, e recebeu a primeira nomeação como professor adjunto do Departamento de Cirurgia Maxilofacial da Universidade de Boston. Desde 2013, é professor clínico adjunto de periodontologia no Departamento de Periodontologia da Universidade de Michigan e, em entrevista à Revista da OMD, revela que “o falar, o fazer e o ensinar fazem muito sentido” para si.
O fundador do Instituto Steigmann fala da importância da formação contínua e deixa alguns conselhos aos médicos dentistas.
ROMD - Da Roménia aos EUA, incluindo Alemanha e Hungria, esteve bastante ativo em vários países durante a maior parte de sua vida profissional. Mas onde se sente em casa?
MS - Sinto-me em casa onde estou no presente.
ROMD - Os fluxos de trabalho digitais estão em alta. Está satisfeito com esse aspeto específico da evolução da medicina dentária, de um modo geral?
MS -O fluxo de trabalho digital ainda não se aplica à manipulação dos tecidos moles. Na medicina dentária, o mundo digital ajuda-nos a planear e posicionar (apenas) implantes e enxertos ósseos. Porém, na execução de procedimentos cirúrgicos, não há aplicação digital. As competências clássicas são, ainda, as mais importantes.
ROMD - O que acha que está a fazer falta no ensino da medicina dentária e que deveria estar a ser ensinado aos alunos?
MS - O que está a faltar na educação médico-dentária, na minha opinião, é a educação para as tomadas de decisão. Ou seja, a medicina dentária individualizada, de acordo com as necessidades e demandas do paciente.
Eu ainda acredito na mentoria, ou seja, trabalhar com um mentor que lidera o caminho e ajuda os jovens médicos dentistas a encontrarem o seu próprio caminho nesta infinidade de publicações e opiniões clínicas.
ROMD - Qual é o seu trabalho clínico ou científico de que mais se orgulha?
MS -A combinação de ambos. Gosto muito de fazer pesquisa clínica para tentar validar algumas opiniões clínicas, ou observações minhas, ou de outros.
ROMD - O Instituto Steigmann foi um sonho realizado? Por quanto tempo planeou a sua criação e com que propósito?
MS -Há quase 20 anos, depois de lecionar por mais de uma década, percebi que havia a necessidade de educação contínua para a manipulação de tecidos moles ao redor de implantes. Enquanto o mundo inteiro estava ocupado com a regeneração e o leito ósseos, construí as minhas próprias instalações de ensino, que me ajudaram a mudar, espero eu, a opinião geral sobre o que é necessário no mundo da reabilitação com implantes. A formação cresceu de um para cinco módulos, aborda os tecidos moles em todas as suas vertentes e, a partir desse momento, comecei a colaborar com conferencistas de renome mundial. O resto é história!
ROMD - Osso, tecido mole, implante, coroa. Qual é o elemento principal para o sucesso final e porquê? Existe alguma sequência lógica?
MS -Todos juntos são importantes. No entanto, temos que mudar as prioridades de caso para caso. Começamos com planeamento reverso, desde a prótese até ao implante, a sua posição e a regeneração de osso; ou, noutras vezes, priorizamos a posição do implante pretendida e a biomecânica, em relação à prótese. Temos que construir a base lógica para cada caso, no processo de planeamento. Às vezes, na zona estética, temos prioridades diferentes daquelas, em casos de implantes colocados na zona não estética: alinhamento de tecidos moles, espessura, cor e qualidade importam... Na zona não estética, a qualidade óssea assume um papel mais importante e, de seguida, o tecido mole. Esta sequência depende do objetivo e deve ser predeterminada na fase de planeamento.
ROMD - Falar ou fazer. Prefere ensinar ou trabalhar na sua clínica diária?
MS - Ambos caminham de mãos dadas. Tenho a certeza absoluta de que ensinar me tornou um melhor clínico e o trabalho clínico um melhor professor. O falar, o fazer e o ensinar fazem muito sentido para mim.
ROMD - Medicina dentária, o futuro parece brilhante ou hesitante?
MS -À medida que temos cada vez mais médicos dentistas em todo o mundo e a profissão se transforma, passando os médicos dos seus consultórios para grandes cadeias de cuidados de saúde médico-dentários, aumenta a necessidade de permanente educação contínua. É mais importante do que nunca que os médicos possam utilizar protocolos que possam replicar de uma clínica para outra e que sejam universalmente aplicáveis. A especialização formal será cada vez mais apreciada. O vínculo entre o paciente e o médico dentista mudou, na confiança dos primeiros relativamente à especialidade dos provedores.
ROMD - Se não fosse periodontologista, implantologista, professor, o que seria?
MS - Um arquiteto, historiador ou professor numa dessas áreas.
ROMD – Que mensagem gostaria de deixar aos colegas portugueses?
MS - Como conheci alguns médicos portugueses em muitos cursos importantes, acho que a minha mensagem é que abracem a racionalidade e o saber de todo o mundo e o apliquem à mentalidade e necessidades dos pacientes portugueses.
O que está a faltar na educação médico-dentária, na minha opinião, é a educação para as tomadas de decisão
ESTILO DE VIDA
Nuno Coelho
Maestro
A música foi feita para todas as pessoas, em todas a idades, culturas e geografias
Iniciou-se no violino, mas o percurso musical conduziu-o até à direção de orquestras. Desde então, Nuno Coelho foi bolseiro da Fundação Gulbenkian, em 2014, maestro assistente da Nederlands Philharmonisch Orkest, entre 2015 e 2017, e dirigiu vários concertos com a orquestra do Festival de Tanglewood, como ‘Conducting Fellow’, entre 2016 e 2017.
Aos 33 anos, Nuno Coelho tem um palmarés invejável, resultado de “um misto de trabalho e às vezes alguma sorte”. No domínio da ópera, dirigiu “La Traviata”, de Verdi, “Cavalleria Rusticana”, de Mascagni, “Rusalka”, de Dvorák, e “Das Tagebuch der Anne Frank” (“O Diário de Anne Frank”), de Grigory Frid. Vencedor do Concurso Internacional de Direção da Orquestra Cadaqués, em 2017, tem recebido vários prémios ao longo dos anos.
Recentemente, foi nomeado maestro titular da Orquestra Sinfónica das Astúrias e este desafio é o ponto de partida para uma conversa sobre música clássica, as variadas formas da arte e a relação de cada um de nós com a música.
ROMD - A música tem inúmeras influências e cruza-se muitas vezes com outras artes, como a dança, a poesia ou o cinema. O que se ganha com esta ligação?
NC - Ganha-se muita coisa quando trabalhamos com pessoas diferentes, com backgrounds diferentes. Um exemplo bastante relevante nas artes é a ópera, em que há esse cruzamento da música, do teatro, da cenografia e, muitas vezes, do bailado. Acho que é algo que deve e pode ser bastante explorado por orquestras para atrair públicos novos, públicos interessados por cultura, mas talvez ainda não pela música clássica, e assim ganhar e enriquecer por esse cruzamento de perspetivas e de criação artística.
ROMD - Pode-se afirmar que também tem um lado terapêutico que pode ser explorado?
NC - Sim, aliás há bastantes estudos científicos feitos nessa área, sobre musicoterapia, mas não só, com benefícios impressionantes ao nível do stress e saúde mental, mas também noutras áreas como Parkinson, Alzheimer, recuperação pós AVC, hipertensão, autismo… Aliás, uma forte área da musicoterapia tem a ver com o autismo. Daí que, além dessa parte mais terapêutica, há depois o efeito talvez mais imediato, que é a concentração, a aprendizagem de um instrumento. O desenvolvimento dessas capacidades motoras intelectuais, quer de coordenação motora, quer de aprendizagem de uma linguagem nova, que no fundo é uma pauta musical, tem todas essas vantagens e tem também o lado intuitivo, que podemos deduzir de algum relaxamento e de ajudar a descomprimir. Tudo isso acho que faz parte desse lado terapêutico.
ROMD - A música clássica também é para jovens? Ainda são notórios os estigmas associados a este estilo musical ou cada vez mais a sociedade está recetiva à música em si, independentemente do género?
NC - Sim, a música clássica é para toda a gente. A questão está em como é que nós, os promotores e os divulgadores da música clássica, fazemos o nosso trabalho a divulga-la. Muitas vezes, a música clássica como instituição que está feita com concertos relativamente longos, com música um pouco mais complexa, com bilhetes às vezes não muito acessíveis, tudo isso está preparado para uma camada da população que tem tempo, conhecimento e recetividade a este género de concertos.
A partir do momento em que nós podemos oferecer o mesmo produto, mas com outra embalagem, o nosso trabalho está aí. Para um público mais novo e ainda não familiarizado, quer com as “regras de etiqueta” de um concerto, quer com o repertório, quer mesmo com esta atitude de um concerto de música clássica (normalmente é uma hora de intervalo mais outra hora de música), é bastante tempo para estar concentrado em silêncio e a ouvir algo que pode ser novo pela primeira vez. Tudo isso são coisas que temos de refletir e adequa-las ao público para chamá-lo até nós. Mas, sem dúvida, que a música em si foi feita para todas as pessoas, em todas a idades, culturas e geografias.
Nuno Coelho é maestro titular da Orquestra Sinfónica das Astúrias
ROMD - A música clássica pode desempenhar um papel de relevo, por exemplo, numa consulta de medicina dentária, contribuindo para a concentração do médico dentista e relaxamento do paciente?
NC - Possivelmente sim. Como falei há pouco, há todo esse lado de relaxamento, de ajudar a mente a descomprimir, a focar-se também em outras coisas, provavelmente não naquilo que o médico dentista está a fazer no momento, mas em outras sensações. É sempre complicado perguntar a um músico se acha que a música pode ser um background, porque estamos habituados na nossa área a que aquilo que fazemos é o foco da atenção, mas obviamente que sim. Além de que a música, normalmente pop, está sempre presente no nosso dia como background, seja nas lojas, em rádios, etc. Há sempre um impulso musical, nas lojas talvez nos leve a consumir e a comprar, noutros sítios, seja em aulas de desporto ou meditação, ajude a descomprimir. Por isso, está sempre presente.
ROMD - Quando é que descobriu a vocação para maestro?
NC - Fui descobrindo ao longo de alguns anos, mas sobretudo quando estava em Bruxelas. Estava a fazer um mestrado em violino e a tocar em algumas orquestras e, paralelamente, estava a ter algumas aulas de direção e foi aí que realmente levei mais a sério essa possibilidade. Decidi então investir e dedicar-me a estudar a direção e a tentar fazer uma carreira nesse lado. A verdade é que tudo correu bastante rápido a partir daí, desde o primeiro lugar na Holanda até outras master class e concursos.
ROMD - É o novo titular da Orquestra Sinfónica das Astúrias. Como é trabalhar com uma equipa que junta várias pessoas, sensibilidades e idiossincrasias?
NC - É uma orquestra que eu já conheço bastante bem. Trabalhámos quatro vezes nos últimos dois anos. Os espanhóis não são assim tão diferentes dos portugueses em muitas coisas e, portanto, isso é um ponto de início. Mas, obviamente, vai ser um desafio enorme não só pela parte musical, mas por toda a parte de planeamento da temporada, de planeamento artístico de novos concertos, de como recuperar o público depois destes dois anos de pandemia. Tudo isto será um trabalho de equipa. No fundo, é essa a riqueza destas grandes instituições: são equipas e é em equipa que as coisas funcionam bem, com cada um a dar o seu contributo.
Aos 33 anos, o meastro tem um currículo invejável
ROMD - A definição e trabalho de uma orquestra, tal como outros estilos musicais, evolui a par com a transformação cultural das sociedades. Ou seja, faz sentido (e verifica-se) a incorporação de novas linguagens musicais ou de outros instrumentos no trabalho e na estrutura habitual de uma orquestra?
NC – Sim, a forma de trabalhar da orquestra mudou muito nestes últimos 50 anos, diria. Depois há o lado dos instrumentistas em que houve uma mudança radical, que foi a entrada de mulheres nas orquestras. Hoje em dia, o desafio que se fala é o de ter equilíbrio de géneros na direção da orquestra, porque a grande maioria ainda são homens. É um processo natural, cada vez há mais mulheres instrumentistas, haverá mais interessadas em estudar direção, há e haverá mais maestrinas no futuro. Estou convencido disso e tem sido um grande foco do mundo da música clássica.
Na forma de trabalhar, houve uma grande democratização. Há 50 anos um maestro era uma figura, não diria tirana, mas quase. Tinha bastante poder concentrado numa só pessoa, um poder amplo em muitas áreas da vida da orquestra. Hoje em dia, não é assim. Os músicos da orquestra têm muito mais responsabilidades, mais poder, são mais ouvidos - ou deveriam ser - nos processos de decisão, quer em convites a maestros, quer na altura de se escolher um maestro e, claro, a opinião deles é bastante mais importante.
O trabalho no ensaio é também muito mais colaborativo, muito mais um trabalho de primos interpares, em vez de talvez quase um ditador, como seria há uns anos.
ROMD - Dirigir uma orquestra é muito diferente de uma ópera ou de um festival?
NC – Na parte da direção da orquestra como maestro, num concerto sinfónico, normalmente o trabalho com a orquestra decorre em dois, três dias, para um concerto no final dessa semana. Portanto, os ensaios são intensos, mas compactos, e é só a orquestra em palco, todo o foco está no palco e nos músicos da orquestra.
Numa ópera, é uma forma de trabalhar diferente. Os ensaios cénicos decorrem às vezes durante um mês, mês e meio, há bastantes mais ensaios com a orquestra, a ópera é tocada muito mais vezes do início ao fim, há também uma questão muito importante que é a distância entre o fosso e o palco onde estão os cantores, que nem sempre é possível ouvir muito bem, há toda a parte cénica que os cantores têm de realizar. Portanto, isso requer do maestro e da orquestra bastante flexibilidade e concentração, porque cada performance é sempre diferente.
Na parte do planeamento artístico, a grande diferença está muitas vezes no facto de a temporada de uma ópera ser planeada com muitos anos de antecedência - muitas vezes três a quatro anos - por todo o trabalho de dramaturgia, encenação, guarda-roupa, cenários, de garantir que os cantores estarão disponíveis em períodos longos. A ópera tem muitas vezes um a dois meses de ensaios, é preciso garantir que os cantores estão livres para esse projeto. A temporada de uma orquestra normalmente é planeada um ou dois anos antes, ligeiramente menos. As duas divergem de um festival, que decorre apenas num período curto de tempo. Uma orquestra e uma ópera estão o ano todo a trabalhar e a planear o que aí vem.
Outra diferença é que uma orquestra é uma estrutura um pouco mais leve do que a casa de ópera. Envolve menos meios e daí torna-se um pouco mais versátil em poder oferecer concertos de música de câmara, concertos educativos, concertos para famílias, pequenas tournées, concertos fora do auditório principal, e indo ao encontro do público noutros sítios. Todo esse trabalho de interação com o público acontece mais frequentemente com uma orquestra do que numa casa de ópera, pela natureza de se ter uma estrutura um pouco mais flexível.
Para Nuno Coelho, «o futuro da música é sempre positivo»
ROMD - Independentemente do estilo musical, há uma identidade subjacente a cada projeto que abraça?
NC - Tento sempre dar o meu melhor e que a mensagem musical seja clara para a orquestra, para assim ser clara para o público. O que eu acho e entendo que o compositor quer transmitir com aquela ópera. No fundo é sempre esse o nosso papel. É sermos um veículo de transmissão entre o compositor e o público.
ROMD - Como funciona o processo criativo? E quais são as suas influências?
NC - Não diria que é um processo criativo porque quem o faz são os compositores. O meu trabalho é mais de intérprete, de análise, estudo da partitura, de tentar perceber a intenção do compositor. Se o compositor começa com uma ideia e cria depois uma página inteira de música, o meu trabalho é pegar nessa página e fazer o caminho inverso, tentar perceber qual foi a base da ideia. Portanto, é a desconstrução de uma partitura, que é o trabalho de um intérprete, seja maestro ou violinista.
ROMD - Como é que um jovem de 33 anos alcança o patamar em que se encontra hoje? Como se define enquanto maestro?
NC - Como em todas as áreas, acho que é sempre um misto de trabalho e às vezes alguma sorte. Há um elemento de estar no lugar certo à hora certa que não depende de nós, mas que é muitas vezes determinante, mais do que o que gostaríamos de admitir. Enquanto maestro, tento colaborar com os músicos que estão à minha frente, porque eu não faço nenhum som e quem tem de tocar as notas e de transmitir a música é a orquestra, cada um dos músicos. Portanto, o meu papel vejo-o muito mais como um encorajador e unificador, quase, de uma mensagem musical, e inspirar e motivar para que cada um dê o seu melhor.
ROMD - Os prémios são uma motivação ou uma responsabilidade acrescida?
NC - Julgo que é sempre um misto das duas coisas. É um reconhecimento que é importante para sentirmos que estamos num bom caminho e é sempre bom para a autoestima. Mas há também uma responsabilidade, porque os prémios têm um nome, houve outras pessoas que ganharam os prémios antes de nós e a expectativa que é colocada é justa e é uma motivação para trabalharmos e estarmos à altura.
ROMD - Como antevê o futuro da música?
NC - Estou numa fase da vida em que sou mais otimista do que pessimista. Por isso, acho que o futuro da música é sempre positivo, na medida em que é algo que todo o ser humano necessita neste processo de empatia entre pessoas, que estão no mesmo concerto a ouvir a mesma música e a sentir o mesmo. É um processo muito forte de comunhão entre pessoas que não se conhecem e isso continuará a acontecer, seja com música clássica ou outro estilo. Cabe-nos a nós, compositores, intérpretes, pessoas que têm responsabilidade no meio, encontrar os formatos que se adaptam ao público no século XXI, não desvirtuando a essência da música clássica, mas adaptando-a e atraindo o público para algo que para nós é tão importante, e que ainda é desconhecido de muita gente. Portanto, cabe-nos mais a nós tornar o acesso fácil e mostrar as riquezas da música.